domingo, 5 de março de 2017

Lista: 9 músicas para se preparar para os shows do Evanescence

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Após um hiato de quatro anos que sucedeu o lançamento e a turnê de seu último álbum, o Evanescence finalmente desembarca mais uma vez em terras brasileiras para shows em três cidades: Brasília (20/04), Rio de Janeiro (22/04) e São Paulo (23/04). Vindo de uma bem sucedida turnê norte-americana, o grupo promete trazer um grande show e tocar os grandes sucessos que marcaram a juventude dos anos 2000. Tendo isso em vista, resolvi preparar uma lista com 10 músicas para entrar no clima e se preparar para a apresentação de Amy Lee & Cia no fim do mês que vem.

1) Everybody's Fool

Vamos abrir a lista com esse clássico, vindo diretamente do álbum de estreia da banda, "Fallen". "Everybody's Fool" é uma música forte que critica a representação midiática de celebridades femininas, que são mostradas e vistas de forma idealizada, como mulheres perfeitas e sem defeitos. De acordo com Amy, a letra foi escrita com base na visão sua irmã, Carrie Lee, e não fala de uma personalidade específica, mas de uma série de pessoas da indústria. Críticas à parte, essa é uma faixa pesada e agressiva (Dentro de suas proporções, é claro) e com um refrão bem marcante. Também foi a responsável por abrir os shows americanos da turnê, e promete agitar muito o público brasileiro.

2) Going Under

Narrando os dramas de um relacionamento infeliz, "Going Under" promete ser mais um destaque dos shows. Por quê? Além de ser uma das grandes conhecidas da banda, é também uma das mais animadas. E por "animada" eu não quero dizer upbeat. O que quero dizer é que é uma das mais cultuadas pelo público, ou seja, será uma daquelas músicas que farão o chão tremer. Uma pequena menção deve ser feita ao solo dessa música, que é impressionantemente bem feito e executado.

3) Whisper

Mais uma representante do álbum "Fallen" em nossa lista, "Whisper" não é tão conhecida como as duas anteriores, mas isso não reflete em sua qualidade.  O arranjo lembra muitas vezes as produções sinfônicas do Nightwish e do Epica (Conta até com uma espécie de gutural), porém com um refrão mais, digamos, comercial. Vale conhecer.

4) Call Me When You're Sober

Migrando agora para o segundo disco da banda, "The Open Door", temos essa música que é figura carimbada nos shows. Maior sucesso do segundo registro de estúdio, "Call Me When You're Sober" trata do relacionamento conturbado de Amy lee com Shaun Morgan, da banda Seether. Ao mesmo tempo que a tristeza e a decepção se fazem presentes na letra e na parte musical, também percebe-se uma dose de autonomia e superação. Essa dicotomia é bem interessante a adiciona bastante ao resultado final. Não é à toa que é uma dos grandes sucessos não só do disco, mas de toda a carreira da banda.

Your Star

Essa é uma dessas faixas que merece bem mais atenção do que recebe. "Your Star" fala por si própria, não são necessários muitos comentários. Amy Lee dá uma verdadeira aula, indo dos graves até os mais agudos numa naturalidade notável. Mas não são só os vocais de Amy que variam. De fato, a música contém uma série de variações de arranjo e de peso/intensidade que a tornam mais única do que já é. Mais uma vez: Vale conhecer a faixa, não só por sua letra significativa, mas pelo simples prazer de ouvi-la. 

6) Lithium

Última representante do segundo álbum na lista, "Lithium" é talvez das músicas mais sentimentais da banda, ao lado de "My Immortal" e "Hello". Também presença garantida nos setlists dos shows, mais uma vez temos uma demonstração dos graves de Amy Lee e um refrão de tirar o fôlego. A letra, aparentemente, parece falar sobre a droga lítio. Mas, como Amy já afirmou em entrevistas, o significado não é literal. Trata-se de uma metáfora para a felicidade e para o torpor. De qualquer forma, é uma peça única e, não importa quantas vezes seja ouvida, sempre vai impressionar.

7) Disappear

O último álbum da banda trouxe um aspecto até então incomum no catálogo do grupo: Músicas otimistas. É claro, a "sofrência" ainda está lá, mas há peças que soam, de certa forma, alegres, como é o caso de "What You Want" e "Disappear". A primeira é o single de maior sucesso do disco, enquanto a segunda só está presente na versão deluxe do disco. Mas isso não significa que ela seja pior, pois, apesar de não trazer nada de muito impressionante, é inegável o poder que essa música de cativar e animar. Com certeza merece continuar nos setlist das apresentações ao vivo, que contam com a adição de um solo de guitarra fantástico.

8) My Heart Is Broken

Faltam palavras para descrever essa que não é só a melhor música do terceiro álbum de estúdio da banda, mas é também a melhor que o Evanescence já lançou, em minha opinião. Lançada como segundo single do disco, "My Heart Is Broken" foi escrita após Amy e seu marido visitarem uma instituição que ajuda vítimas de tráfico sexual, uma experiência que, em suas próprias palavras, mudou a forma como a música vinha sendo escrita. A forma como a banda executa a música é fenomenal, com uma grande dose de emoção, que, aliada à letra, resulta num momento único e especial. O sentimento que Amy põe nos vocais e as cordas do arranjo são atrações à parte. Uma curiosidade: A faixa foi executada pela primeira vez no Rock In Rio 2011, na última noite do festival, que também contou com as apresentações de System Of A Down e Guns N Roses. 

9) Even In Death

Uma das músicas mais antigas da banda, essa faixa só foi lançada oficialmente há pouco tempo, no primeiro lançamento comercial do CD demo "Origin", em 2016. É uma música composta apenas por voz, piano e cordas. Tem uma atmosfera fúnebre e fala sobre o sentimento de amar tanto uma pessoa que você a traria de volta dos mortos. É uma faixa bem bonita e bem executada, e que já faz parte do setlist da banda a certo tempo. Espero que a toquem por aqui.




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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Rainbow: A obra-prima esquecida (Review: Rising)

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Certa vez, a bailarina e dançarina Twyla Tharp afirmou que "A arte é a única maneira de fugir sem sair de casa". Ou seja, a arte é o único veículo que capaz de nos transportar para as mais diversas realidades. Essa é a exatamente a sensação que se sente ao final dos trinta e três minutos de "Rising", do Rainbow: Fizemos uma grande viagem para diversos reinos da fantasia e da imaginação. O projeto de Ritchie Blackmore vinha de um debut mais simples e bem menos ambicioso, com faixas curtas e dentro do estilo Hard Rock que o consagrou no Deep Purple. Em seu segundo disco, a banda mudou de rumo e apostou em um estilo mais melódico e bem trabalhado, resultando no que hoje conhecemos como "Um dos mais importantes álbuns da história do rock/Metal", ou simplesmente "Rising".

"Rising" é um disco que fala por si só, é uma obra que merece ser apreciada com atenção. Não é apenas um conjunto de músicas, é uma aula de técnica, melodia e musicalidade que estavam bem a frente do tempo em que foram lançadas, no ano de 1976. Sim, há ainda canções mais "básicas", ao bom estilo da antiga banda de Blackmore,  mas aqui vemos uma maior influência de Ronnie James Dio nas composições, trazendo elementos mais épicos e melódicos para a sonoridade e para as letras do disco; que casaram muito bem com o Hard Rock de Blackmore . 

O resultado? Um álbum denso, bem trabalhado e muitas vezes esquecido ao se falar nos grandes clássicos do rock. É verdade, é um trabalho bem subestimado, mas não por isso menos importante. Aqui vemos diversos elementos que, mais trade, ajudariam a moldar o que hoje conhecemos como Metal melódico / Metal Sinfônico. 

DESTAQUES:

1) Tarot Woman

Uma aventura contagiante e com um ritmo envolvente. Assim podemos descrever a faixa de abertura de "Rising". "Tarot Woman" começa com uma introdução de teclado (Mais longa do que o necessário) que logo dá lugar ao simples e poderoso riff de guitarra, que, ao se juntar à bateria do grande Cozy Powell, cria um momento intenso e explosivo. O vocal de Dio entra com tudo e dá início à jornada, narrada em primeira pessoa: "I don't wanna go / Something tells me no, no, no" (Eu não quero ir, algo me diz não, não, não). A letra descreve uma profecia feita por uma cigana (Tarot Woman) ao personagem principal, dizendo que um garota irá arruinar a sua vida. Vemos partes da previsão em versos como "Her love is like a knife / She'll carve away your life" (O amor dela é como uma faca / Ela irá cortar a sua vida).

Musicalmente, a faixa é uma grande peça; com mudanças de ritmo, subidas de tom e um instrumental poderoso. A progressão de acordes é interessante ajuda a criar a atmosfera mística que envolve a letra. É uma faixa que progride tão naturalmente que o ouvinte nem percebe os quase 6 minutos de música passando. Como dito anteriormente, o riff é simples, composto basicamente de uma nota tocada em palhetada alternada, mas, como diriam certos artistas, "Menos é mais". O vocal é uma atração à parte, e já introduz a capacidade que Dio tem de adaptar perfeitamente a sua voz para a proposta que a música traz, que seria muito bem explorada em sua carreira solo, alguns anos mais tarde.

2) Starstruck

Podemos dividir "Rising" em três partes, como se fosse uma única grande peça: Uma introdução/Abertura, um intervalo e o grand finale. É nesse pequeno intervalo que se encontram três pérolas, todas com a mesma proposta. São elas: "Run With The Wolf", "Starstruck" e "Do You Close Your Eyes". Qualquer uma delas poderia ser escolhida para representar essa sessão do disco, mas escolhemos a faixa de número 3 por um simples motivo: Ela lembra em muitos aspectos os trabalhos de Blackmore com Ian Gillian no Deep Purple. Como não se lembrar de "Strange Kind Of Woman" ao ouvir a harmonia dos versos iniciais? É uma peça de Rock Clássico na sua melhor forma, sem adereços, apenas guitarra, vocal, baixo e bateria. Mas quem disse que isso não é o suficiente?


3) Stargazer

Aqui está o verdadeiro ápice do disco. Uma apoteótica peça de mais de 8 minutos que é capaz de arrepiar qualquer um que a ouça. Desde a introdução de bateria até o final, é uma faixa que prende o ouvinte até o último segundo do fade-out, e ainda deixa aquele "gostinho de quero mais".

Sua letra é muito bem construída e conta a história de um grande mago que tinha o desejo de voar para os céus, em busca de sua estrela.Para conseguir esse feito, obrigou seus escravos a construírem uma enorme Torre, causando a morte e o sofrimento de muitos, como visto em "Just to see him fly / So many died" (Só para vê-lo voar / Muitos morreram). Quando a torre finalmente é terminada, ele sobe ao topo e se joga de lá, caindo no chão ao invés de ascender aos céus, selando  assim  seu destino fatal. A parte lírica é bem descritiva, retratando as condições de trabalho e o sofrimento daqueles que foram designados a construir a torre, vemos isso em "In the heat and the rain / With whips and chains" (No calor e na chuva / Com chicotes e correntes). Também traz uma boa imagem do momento em que o mago sobe a Torre e cai lá de cima, em "All eyes see the figure of the wizard / As he climbs to the top of the world / No sound as he falls instead of rising / Time standing still / Now there's blood on the sand" (Todos os olhos veêm a figura do mago / Enquanto ele caminha para o topo do mundo / Nenhum som, quando ele cai ao invés de subir / O tempo está parada, agora há sangue na areia), tudo isso intepretado por Dio com grande maestria, definitivamente uma de suas melhores (Senão a melhor) performances vocais. 

(Essa é uma história pode ser entendida literalmente, mas também pode ser entendida como uma metáfora para falsos ídolos, aqueles que enganam seus seguidores com promessas e histórias falsas.).

"Stargazer" começa aparentemente comum, com um riff básico e bem construído, mas vai evoluindo gradativamente até o momento em que Ronnie dispara os versos "Oh, I see his face!". A partir daí a música toma um rumo inesperado, caindo numa ponte com sonoridade oriental e hipnótica que termina no majestoso refrão, recheado de teclados e com um grande trabalho vocal. Essa estrutura (Verso-Ponte-Refrão) se repete mais uma vez, porém, ao final do segundo refrão, a música sobe de tom e tem começo o solo de guitarra com uma sonoridade oriental típica de Blackmore (Já vista em músicas como "Stormbringer", do álbum homônimo do Deep Purple).

Depois de mostradas as habilidades e o virtuosismo do guitarrista, a música vai para uma seção bem interessante, em que ouvimos diversos crescendos consecutivos, que criam uma expectativa enorme e que acabam subitamente, dando lugar à estrutura que vimos no começo da música. Porém, dessa vez, essa estrutura se repete apenas uma vez, e aí começa o verdadeiro ponto alto de "Stargazer". 

Depois de "But why?" , vemos Dio se perguntando o motivo de aquilo ter acontecido, enquanto o tema principal se repete em loop . Vão sendo adicionados cada vez mais elementos à música; primeiro um teclado com som de coral e finalmente uma orquestra completa, que torna a faixa ainda mais grandiosa do que já é. Esse conjunto permanece tocando até o fim da música, com Dio narrando o ponto de vista de um dos escravos que agora que se encontra liberto, cheio de otimismo e esperança (como visto em "He gave me back my will" (Ele me deu de volta minha vontade) e "I see a Rainbow rising" (Eu vejo um arco-íris surgindo)), mas ao mesmo tempo destruído e confuso ("My eyes are bleeding" (Meus olhos estão sangrando) e "Look at my flesh and bone" (Olhe para a minha carne e osso)).


Não importa quantas palavras sejam usadas para descrever essa, ela é uma obra que precisa ser ouvida (mais de uma vez) para que seja compreendida em sua essência.

4) A Light In The Black

Mesmo não possuindo a inspiração e a grandeza de sua antecessora, "A Light In The Black" não é menos grandiosa e importante no contexto do disco (Afinal, ela foi a escolhida para fechá-lo).

Essa é uma história que se passa logo depois dos eventos da faixa anterior. A letra narra o que aconteceu ao escravo que ouvimos no final da música. Agora ele é um homem livre, está indo para casa, mas ainda se encontra conflituoso, se perguntando o porquê daquilo ter acontecido, como visto em "All my life it seems / Just a crazy dream / Reaching for somebody's star" (Toda a minha vida / Parece apenas um sonho maluco / Alcançando a estrela de alguém). As referências ao trágico final do mago são explícitas e vistas em versos como "Did he really fall?" (Ele realmente caiu?) e "Reaching for somebody's star" (Alcançando a estrela de alguém).

Musicalmente, ela é mais simples e mais rápida que "Stargazer", trazendo menos teclados e mais espírito de Hard Rock. Possui uma seção instrumental bem menor, num estilo que lembra muito as jams do Deep Purple. Possui um solo de teclado e um de guiatarra, que desembocam num tema (Aos 5 minutos e 42 segundos) que lembra muito os arranjos e os riffs de Metal Melódico que estamos acostumados a ouvir, com guitarras duplas que lembram muito a música clássica. Só aí já vemos a importância que esse disco tem na história e nos primórdios desse subgênero.

Sim, houve Helloween, houve Stratovarious, house Iron Maiden e houve Yngwie Malmsteen; mas antes disso houve o Rainbow, com suas orquestrações e épicos que só vieram a se repetir da mesma forma no final dos anos 80 e início dos anos 90. Não só nesse disco vemos essa atitude vanguarda. Em seu sucessor, "Long Live Rock N' Roll", temos "Gates Of Babylon" e "Rainbow Eyes", a primeira com sua boa exploração de elementos árabes e místicos, e a segunda com o seu uso de violinos e instrumentos folk (Já vistos em canções do Led Zeppelin), que mais tarde seriam consagrados em bandas como Nightwish e Elluveitie. Tudo isso antes da virada para a década de 80.

NOTA: 10

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Song Review: Girls Girls Girls (Mötley Crüe)

Resultado de imagem para motley crue girls singleAs gerações atuais podem não se lembrar, mas houve um tempo em que o hard rock dominava o mundo. Sim, estou falando dos famigerados anos 80, com seus excessos, exageros e, é claro, o já conhecido Glam Metal. Músicas como "Is This Love?" (Whitesnake), "We're Not Gonna Take It" (Twisted Sister) e diversas outras tomavam conta das rádios e da MTV, além de servir de trilha para a juventude daquele tempo. E não houve grupo que representasse melhor o espírito da época do que o Mötley Crüe. Com seu visual exagerado, a banda vivia a tríade "Sexo, drogas e rock n' roll" até o limite, festejando até não poder mais. "Girls Girls Girls" não é uma música que simbolize somente a ideologia e a vida do Mötley Crüe, mas basicamente tudo o que acontecia nos bastidores dos clubes e nas ruas lotadas da Sunset Strip da década de 80.

A letra da faixa não poderia ser mais direta. Vejamos o refrão: "Girls, girls girls / Long legs and burgundy lips / Girls, girls, girls / Dancing down on Sunset Strip / Girls, girls, girls / Red lips, fingertips" (Garotas, garotas, garotas / Pernas longas e lábios de borgonha / Garotas, garotas, garotas / Dançando na Sunset Strip / Lábios vermelhos, ponta dos dedos). Como podemos ver, a vida da banda se resumia a uma única coisa: Garotas. E era verdade, a vida nos clubes de shows da Sunset Strip era um caos, um verdadeiro antro de sexo e drogas. Não que eles se preocuoassem ,estavam lá apenas para festejar. 

Musicalmente, é composta por um tema principal que se repete durante grande parte dos seus 4 minutos e 30 segundos. Há uma variação nesse tema após o segundo refrão, quando percebemos uma estrutura um pouco mais elaborada e menos genérica do que a contida nos versos e no refrão, (apesar do riff da música possuir uma pegada interessante) com variações de ritmo e de atmosfera, com uma progressão que vai crescendo e depois cai num Hard Rock mais Glam novamente.

Não é a música mais elaborada que vamos escutar, mas não é isso que estamos avaliando aqui. A estrutura musical é interessante e bem cativante (Vai dizer que não se sentiu tentado a cantar junto?) e a letra é um verdadeiro retrado de uma época, além de ser um dos grande hits do Crüe. Durante a turnê de despedida da banda, intitulada "The End" (Que passou pelo Rock In Rio em 2015), "Girls Girls Girls" foi escolhida para ser a música de abertura, animando o público como nunca.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Muse: A obra-prima da primeira década (Review: The Resistance)


O mundo do rock já conheceu diversos power trios marcantes. Tivemos The Police, Nirvana, The Jimi Hendrix Experience, Rush, Green Day e muitos outros. Dentre eles está o Muse, banda que vem crescendo exponencialmente desde a sua estreia em 1999, com o disco "Showbiz". Desde então a banda vem compondo álbuns de qualidade e escrevendo e compondo hits como "Plug In Baby", "Hysteria", "Madness" e "Knights Of Cydonia", que deram à banda o status enorme que tem hoje em dia.

Esse sucesso não veio por acaso. São três músicos que mais parecem trezentos, com todos os elementos sonoros e musicas que são trazidos a cada disco, além de, é claro, grande técnica e profissionalismo em seus instrumentos. O ápice dessa proposta está no quinto álbum de estúdio do trio: O poderoso e marcante "The Resistance". É um disco forte e que, acreditem, não possui sequer uma faixa fraca ou ruim em seus 54 minutos de duração. Além disso, ele traz elementos de Hard Rock, arranjos de bateria eletrônica, baixos distorcidos e até uma sinfonia completa, dividida em três partes distintas. A banda ainda lançou dois discos depois de "The Resistance", "The 2nd Law" e "Drones", que possuem bons momentos e propostas interessantes, mas nada que ultrapasse o que foi atingido aqui.

"The Resistance" é aquele tipo de disco que costumamos falar que será um clássico, e é verdade, ele tem tudo para sobreviver ao teste do tempo e, daqui a trinta anos, ser lembrado como umas das maiores (senão a maior) obras da primeira década do século XXI.

DESTAQUES:


Resultado de imagem para MUSE UPRISINGAbrindo o álbum com uma peça pesada e direta, a banda aqui convoca os ouvintes para uma grande revolução. É uma espécie de canção de protesto, um grito dos oprimidos de certa sociedade, que esbravejam e anunciam "They will not force us / The will stop degrading us /They will not control us / We will be victorious" (Eles não nós forçarão / Eles pararão de nos degradar / Eles não nos controlarão / Nós seremos vitoriosos). Alguns dizem que a música se assemelha ao tema de Doctor Who, devido ao seu ritmo marcado e ao tema de teclado que é apresentado no começo de ambas as canções. Foi o primeiro single a ser lançado e permanece até hoje um dos maiores sucessos da banda, sendo parte integrante do setlist desde que foi lançada.
A estrutura da música é interessante, com o baixo fazendo a base que possui um arranjo interessante e bem marcado. Esse é um ponto positivo a ser destacado no trabalho Muse: Não há hierarquia de instrumentos. Assim como no Rush, guitarra, baixo e bateria aparecem e trabalham igualmente nas músicas, dando a elas o impacto e a boa estrutura que têm. Voltando à música, o tema de teclado do começo é interessante, porém breve, e a bateria é bem ritmada e tem poucas variações. A guitarra faz breves aparições durante os versos, com bends agudos, e se faz mais presente no segundo  momento da música, iniciado aos 3 minutos e 9 segundos. Nesse momento não há vocal cantado, a guitarra faz um solo e ouvimos saudações de uma multidão que grita "Hey!" durante a passagem inteira.


Imagem relacionadaA segunda faixa foge um pouco da proposta da primeira. É mais melódica e possui mais seções. Começa com uma introdução digna de trilha sonora de filmes, leve e épica. Conforme vai crescendo, mais elementos são adicionados à música. Primeiro ouvimos um piano, depois uma bateria, até que os vocais começam e permanecem no mesmo arranjo do começo por certo tempo, antes do baixo entrar e a bateria mudar de ritmo. Essa é a ponte que levará ao apoteótico refrão, que diz "Love is our resistance / They keep us apart and they won't stop breaking us down / And hold me, our lips must be sealed" (O Amor é a nossa resistência / Eles mantém separados e eles não pararão de nos quebrar / E me segure, nossos lábios devem ser selados).

Uma bonita canção de amor, certo? Não exatamente. A letra da canção foi baseada no livro 1984, de George Orwell, mais especificamente no romance proibido de Julia e Winston. Aqui, o amor é a única forma de se livrar das regras e ditames do grande irmão, ditador totalitário do livro.

É talvez a melhor faixa do disco, com seu refrão que causa arrepios na espinha e pela grande interpretação vocal de Matthew Belllamy, que consegue transmitir o sofrimento dos versos, a esperança do refrão e a raiva dos últimos versos de maneira que o ouvinte possa experimentar a sensação vivida pelo personagem.


Resultado de imagem para muse undisclosed desiresAqui a banda mostra o seu lado mais alternativo, com uma música estilo Depeche Mode, com algumas pinceladas de R&B. É uma canção de amor, tratando dos segredos e da vida compartilhada por dois amantes. Mas, não se engane, não é uma música romântica feita no bom e velho estilo "Balada melosa do Whitesnake". É uma peça mais complexa. A atmosfera é, de forma geral, sombria e misteriosa, com elementos envolventes e, ao mesmo tempo misteriosos. Possui um arranjo interessante de teclados e sintetizadores e um slap bass muito bem trabalhado no refrão. Os vocais são apresentados de forma envolvente e, de certa forma, sedutora e hipnótica. Os arranjos eletrônicos colaboram ainda mais para esse clima hipnótico, pois se repetem incansavelmente, deixando o ouvinte num transe que se estende até o fim música.


4) UNNATURAL SELECTION

É realmente difícil definir os destaques desse disco. Como dito antes, não há faixas fracas, cada uma trabalha bem e se destaca em sua única individualidade. “United States Of Eurasia” é uma bela pausa melódica que explicita em vários aspectos a influência do Queen nas composições do grupo. “Guiding Light” é uma peça singular, que também lembra bastante os trabalhos mais recentes do Queen.

Mas nenhuma das duas foi capaz de preparar o ouvinte para o que viria em seguida. “Unnatural Selection” é pesada, direta e ebem trabalhada. Chega a ser mais densa do que “Uprising”, começando com um órgão de igreja com um vocal que também lembra bastante o estilo de Freddie Mercury. A introdução dá lugar a em um riff impactante, que já estabelece a atmosfera que se seguirá até o fim da música, guiada totalmente pela guitarra. O baixo e a bateria permanecem no plano de fundo, deixando que Belammy faça a linha central da faixa, que também foi inspirada em uma obra literária (“Cisne Negro”), e aborda o caos de se viver em uma sociedade em que “O vencedor leva tudo”, como afirmou Belammy em entrevista à uma emissora de televisão francesa.

Há uma pausa calma e suave no meio da música, que começa com um arranjo que lembra um blues e que depois dá lugar ao solo de guitarra. Já no0 final tem os uma outra variação rítmica atmosférica, que lembra muito algumas músicas da NWOBHM.
É rápida, é energética e é um sucesso. Merece com certeza um ligar nos destques.


5) MK ULTRA

Um dos momentos mais inspirados do disco, “MK Ultra” é uma peça injustamente subestimada da carreira do trio. Pode não ter o impacto de “Unnatural Selection” e “Resistance” e nem a inovação de “Undisclosed Desires”, mas não é menos digna de reconhecimento por causa disso.

Começa com um riff bem otimista que vai crescendo e se repete até os vocais começarem. O tema da letra pode ser percebido desde o título da música: MK Ultra é o nome do projeto secreto da CIA de lavagem cerebral e controle mental, com experimentos que, supostamente, envolviam tortura física e psicológica. Mas a letra não trata necessariamente dos episódios que envolveram a inteligência americana, mas também, podem ser compreendidos como uma crítica voltada para um contexto mais generalizado: A mídia global e como ela trabalha para manipular os cidadãos; fato que já foi afirmado por Belammy em outra entrevista.


Há várias referências ao tema na letra, como, por exemplo, em “How many lies will you create?” (Quantas mentiras vocês vão criar?) e “How much longer till you break? / Your mind is about to fall” (O quanto mais até você sucumbir? / Sua menta está prestes a cair).

6) EXOGENESIS: SYMPHONY (PARTS 1, 2 & 3)

Resultado de imagem para muse exogenesisAqui está: o apoteótico e grandioso fim do disco em uma sinfonia completa dividida em três partes (Overture/Croos-polination/Redemption). Em seus quase 13 minutos de duração, esse é um momento a parte dos outros contidos no álbum, pois possui seu próprio conceito e sua própria proposta além de, é claro, seu próprio universo. Conta a história da Humanidade, que está deixando a Terra, já destruída e arruinada, para trás e indo em busca de um novo planeta. Como mencionado anteriormente, é dividida em três partes, sendo elas:

PARTE I: OVERTURE

Os seres humanos ainda estão confusos e assustados. É o começo do fim, a civilização aceita o seu destino, mas ainda restam perguntas como “Quem somos nós?”, “Por que?”, e mais importante: “Por que estamos aqui?”.

Musicalmente, essa parte começa bem lenta, em uma abertura que lembra em algumas características a de “2001: Uma Odisseia no espaço”, com seu arranjo dramático e misterioso, que anuncia que algo está por vir. Aos poucos vão sendo adicionadas mais camadas e mais instrumentos, incluindo o vocal em falsete muito bem executado. Tudo culmina no final épico e grandioso, com a presença da guitarra e da orquestra executando uma passagem triste e desesperadora.
É uma peça de abertura, como o próprio nome sugere, e retrata o estado mental da civilização humana, ainda na Terra e pronta para sair, por isso é tão melancólica.

PARTE II: CROSS-POLINATION

Diferentemente de “Overture”, essa arte se mostra mais acessível e otimista instrumentalmente, talvez representando a esperança que a Humanidade tem nessa missão e nos astronautas que foram mandados para o espaço, a fim de realizá-la, e que narram essa parte da sinfonia.

Começa com um piano na linha de frente euma orquestra executando um arranjo futurista no fundo, que vai crescendo até que acontece uma quebra e voltamos a ouvir apenas o piano com a voz, que exala esperança nos astronautas (“We’re counting on you” e “You must rescue us all”), por isso a atmosfera dessa seção é positiva e feliz.

Quando nos é exposta a visão dos astronautas, o clima continua o mesmo e o arranjo não muda, permanecendo o mesmo até o vocal parar, quando subitamente a música desacelera e se mantém calma e vagarosa até que acabe.

PARTE III: REDEMPTION

O final definitivo da saga também e filosófico e reflexivo, pois nos leva a pensar sobre o valor real da tal missão, e se os seres humanos não irão também destruir o novo planeta ao qual se direcionam como já fizeram com a Terra.
É uma faixa calma e serena, diferente do caos e confusão da primeira e a emoção otimista da segunda. É um momento de descanso, um final suave e tranquilo para esse que é tido como o melhor momento do disco.

NOTA: 9,5

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

O Triptych de Marilyn Manson (Parte 1): Antichrist Superstar

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Genial e controversa não são palavras comumente usadas para caracterizar uma mesma pessoa, quanto mais a obra de uma vida inteira. Mas é assim que podemos ver os dez álbuns de estúdio lançados por Marilyn Manson nesses mais de dez anos como artista: Genial, controversa, emocional e, em muitos pontos, doentia e perturbadora.

Recheada de críticas, analogias e jogos de palavras, a obra de Manson é diversificada e com muitos pontos altos; especialmente quando se trata do chamado "Triptych", uma sequencia de três álbuns lançados sucessivamente que se interligam formando a obra-prima da carreira do artista. Nossa proposta aqui é analisar cada um destes três discos separadamente em uma série de três postagens distintas que trarão interpretações e visões acerca do significado e da intenção de Manson ao elaborar obras tão complexas.

(Com isso em mente, os posts trarão algumas visões e interpretações pessoais sobre cada um dos discos e de suas letras, assim como alguns dados extraídos de sites como "The Manson Wiki", "SongFacts" e também da auto biografia de Manson, "The Long Hard Road Out Of Hell")

Resultado de imagem para nietzscheA primeira parte do "Triptych" é de longe a mais polêmica. "Antichrist Superstar" é, em muitos aspectos, um álbum difícil e complexo, trazendo diversos conceitos filosóficos, metáforas e referências pessoais e biográficas. O pano de fundo para tanto conteúdo é a saga da metamorfose do verme (personagem principal da narrativa) em um ser superior e livre, o chamado Anticristo Superstar.

Apenas nesse conceito superficial já se pode perceber a grande influência dos escritos e das teorias de Nietzsche, autor que Manson lia bastante nessa época, nesse trabalho. A saga de transformação do verme está intimamnete relacionada à teoria do Super Homem , teorizada pelo filósofo, que abordaremos mais para frente.

É um disco que busca desconstruir, em todos os aspectos, os valores e padrões socias (principalmente os cristãos), o conceito de Deus e a importância da religião. Apenas analisando essa definição superficial do disco já podemos perceber traços autobiográficos sendo trazidos a tona, pois Manson foi criado em família e escolas cristãs que abominavam a música que o jovem Brian Warner (Nome real de Manson) ouvia e restringiam seu comportamento ao extremo, fazendo com que crescesse no jovem Brian uma rebeldia natural.

O título é uma óbvia referência ao aclamado musical "Jesus Christ Superstar", de Andrew Lloyd Webber" e, apesar de ter sido o primeiro a ser lançado (No dia 8 de Outubro de 1996), é referenciado como sendo a última parte da história contida no "Tryptich", fato que já foi afirmado pelo próprio Manson como sendo uma possibilidade de interpretação. Mas, seja como for, é um disco que funciona muito bem sozinho.

As músicas são divididas em três ciclos, cada um deles contendo músicas que expressam uma fase do crescimento do verme e de sua transfiguração e ascensão à posição de anticristo.

CICLO I: O HIEROFANTE

Hierofantes, na Grécia e no Egito antigo, eram sacerdotes da alta hierarquia. Em tradução literal, significa "Aquele que traz a luz", podendo, no contexto do disco, simbolizar a fase de desenvolvimento e apresentação do ser que, futuramente, governará a todos.
Nessa primeira parte não vemos muitas narrativas diretas acerca do crescimento e da metamorfose que futuramente serão sofridas pelo personagem, mas somos sobrecarregados por muita crítica social e muito da visão de Manson sobre o mundo que o cerca.

IRRESPONSIBLE HATE ANTHEM

A frase "When you're suffering, know that I have betrayed you" (Quando você estiver sofrendo, saiba que eu te enganei) seguida por Manson incitando uma plateia a repetir os versos 'We hate love/We love hate" (Nós odiamos o amor/Nós amamos o ódio) dão início ao disco em um de seus momentos mais violentos. 

"Irresponsible Hate Anthem" é agressiva e direta tanto musicalmente quanto liricamente. Faz uma dura crítica ao americanismo e à sociedade americana, temática que é notada desde o primeiro verso;"I'm so all american I'd sell you suicide (Eu sou tão americano que te venderia suicídio), e em outros passagens como a icônica "I wasn't born with enough middle fingers" (Eu não nasci com dedos do meio suficientes). É uma faixa de abertura, que estabelece toda a atmosfera pesada e agressiva que se fará presente na maioria das demais músicas do disco.

THE BEAUTIFUL PEOPLE

Maior hit da carreira de Manson, essa faixa continua com a agressividade e a crítica social da primeira música, dessa vez tendo um lavo mais específico: A ditadura da beleza e dos padrões estéticos. Pode-se fazer um paralelo interessante com  outro conceito de Nietzsche: A "Moral de escravos". Nessa teoria, exposta em seu livro "Genealogia da Moral", o filósofo defende que os ditos "escravos" respondem com passividade à moral de ditada pelos seus senhores, criando assim um ambiente de opressão.

Esse conceito é aplicado em diversos versos no decorrer da música, como por exemplo em "The weak ones are there to justify the strong" (O fracos estão aí para justificar os fortes). 

Essa crítica não deixa de ser autobiográfica, visto que Manson sofria por conta do tipo de música que ouvia e por seu comportamento. Nesse caso as "pessoas bonitas" seriam a escola e os valores sociais como um todo, que o impediam de exercer sua liberdade.

Musicalmente, a música conta com uma batida tribal, que lembra em alguns aspectos marchas fascistas, e um riff pesado em Drop D, que dá à música o peso que ela precisa. O tema inicial  se repete por toda a extensão da faixa, com o riff numa espécie de dissonância que "incomoda" ao ser ouvida pela primeira vez. 

Os vocais dos versos são praticamente falados, como em um sermão ou um discurso público, e o refrão é agressivo, com vocais rasgados que questionam e afirmam a auto imagem do eu lírico, perguntando ao ouvinte o que ele vê, se "é algo bonito ou algo livre", e ainda caracteriza aqueles que impõem os padrões estéticos como primatas, respectivamente em "Hey you, what do you see? Something Beautiful or something free?" e "If you live with apes, man it's hard to be clean".

É interessante perceber a jogada de Manson nessa última passagem citada. Em tradução literal, ela fica "Se você vive com primatas, é difícil ser limpo". Sendo os primiatas seres primitivos, é natural que sejam associados à sujeira. Com esse conceito em mente, Manson afirma que não é possível escapar daquilo que, teoricamente, é uma regra geral de um certo grupo, ou seja, um padrão. Usando essa analogia, Manson afirma que não é possível ser limpo em um grupo de primatas, ou seja, todos devem seguir o mesmo padrão.



O clipe de "The Beautiful People" é tido como um dos mais assustadores de toda a carreira de Manson, ao lado de "Sweet Dreams (Are Made Of This)". Contém imagens rápidas e flashes misteriosos, intrigantes e amedrontadores. Logo no começo vemos rápidos flashes de artigos e produtos usados em cirurgias plásticas e procedimentos estéticos (próteses, cadeira de cirurgia...), representando os resultados e a opressão da ditadura estética, que levam os indivíduos a se submeterem a tais procedimentos para se encaixar socialmente. Minhocas também podem ser vistas, talvez simbolizando o estado de verme que o cantor se encontra nessa primeira parte do disco.

Ao começar a cantar, vemos Manson envolto por faixas e ataduras, objetos também utilizados em procedimentos estéticos. Em outra imagem, vemos o vocalista utilizando um aparelho facial usado em cirurgias, imagem que se tornou uma das mais representativas dessa fase do cantor.


Passados 1 minuto e 4 segundos, vemos uma sombra de um indivíduo em um processo de "melhoramento", ou seja, se adequando aos padrões. Esse indivíduo, mais tarde é revelado como uma entidade alta, acima de todos os outros. Vamos focar nisso mais adiante.

Ao longo de todo o clipe, vemos imagens de pessoas marchando, obedecendo cegamente os preceitos e valores impostos pela sociedade, ou seja, alienados.

Ao mudar a atmosfera da música, também vemos mudar a imagem Manson, agora caracterizado como um líder totalitário/religioso, saudado e ovacionado por dezenas de pessoas. Podemos traçar uma relação entre essa cena específica e a temática de "Antichrist Superstar", pois ela também trata da ascensão de um ser insignificante à posição de astro mundial.

Nesse momento também vemos as ditas figuras gigantes mencionadas  anteriormente, que simbolizam essa ascensão de um nível mais baixo para um nível mais baixo e que , em um momento posterior, se juntam a Manson, figura gigante principal, no processo de alienação da população.

Essas são as bases e representações que aparecem em todo o restante do vídeo, que, visto de um ângulo macroscópico, é uma visão figurativa do que a ditadura estética faz com os seres humanos.

VMA 1997

Manson volta a usar "The Beautiful People" como veículo de crítica nessa apresentação que deu o que falar na época. (Clique aqui para assistir)

Já começa a apresentação satirizando um pronunciamento oficial de um presidente, com a presença de uma banda que anuncia a sua chegada e uma enorme bandeira que claramente ridiculariza a dos EUA.
O "discurso" proferido por Manson, traduzido para o português, foi o seguinte:

"Meus caros americanos,
Nós não seremos mais oprimidos pelo fascismo do Cristianismo. E nós não seremos mais oprimidos pelo fascismo da beleza. Eu vejo todos vocês sentados por aí dando o melhor de vocês para não ser feios, dando o seu melhor para não se encaixar, dando o seu melhor para conquistar seu lugar no Paraíso. Mas deixe-me perguntar: Você deseja estar num lugar repleto de babacas?"

Terminado o discurso, a batida começa e a música tem início. Inicialmente, não há nada diferente, apenas Manson trajando uma longa veste preta e rasgando os versos da música. 
Porém, aos dois minutos e trinta e cinco segundos, ele retira a veste e revela que está usando um lingerie por baixo.

Dado o choque no público, o vocalista se dirige à plateia e profere os versos "Hey you, what do you see? Something Beautiful or something free?", perguuntando à plateia o que ela acha daquele visula. 

Mais uma crítica bem pensada, mas insanamente ousada.

DRIED UP, TIED AND DEAD TO THE WORLD

Aqui vamos para um lado mais pessoal do cantor, com confissões e retratos do que parece ser um relacionamento abusivo e instável, não necessariamente familiar ou amoroso, mas com o mundo em geral. A música trata bastante do uso de drogas e várias referências ao assunto são encontradas em versos como "I am anything whem I'm high" (Eu sou qualquer coisa quando estou "alto"). 

Nesse ponto da história, o abuso de drogas já era parte da realidade da banda, que vinha em uma ascensão moderada desde o primeiro álbum "Portrait Of An American Family" e do EP "Smells Like Children", que continha o famoso cover de "Sweet Dreams (Are Made Of This)" , do grupo pop Eurythmics. Porém, a banda estava tão imersa no consumo de drogas e no espírito das turnês que um novo álbum parecia um sonho distante, pois,como  Manson revela em sua biografia, os músicos não demonstravam comprometimento algum com a gravação músicas. Além disso, Manson e sua banda se envolveram em um conflito com a gravadora, o que atrasou mais ainda o lançamento do disco.

Toda essa série de eventos deu à letra de "Dried Up, Tied And Dead To The World" um ar melancólico e pesado. Musicalmente, a música traz alguns elementos bem sutis do metal industrial, estilo que a banda buscava explorar cada vez mais, e é mais lenta e arrastada do que as duas anteriores. 
Manson a cita como uma de suas favoritas do disco.

TOURNIQUET

Música que fecha o primeiro ciclo e primeiro single do álbum, "Tourniquet" foi baseada em um sonho de Manson sobre construir uma mulher a partir de próteses e partes de seu próprio corpo. A letra descreve em detalhes a composição e o processo de criação de tal ser, como no primeiro verso em que ele afirma "She's made of hair and bone and little teeth" (Ela é feita de cabelo e ossos e pequenos dentes). 

Muitos viram a proposta da música como uma maneira de retratar as mulheres como objetos e não como seres humanos. Manson afirma que a música é na verdade uma manifestação sobre a sua necessidade de amor e compaixão. Se analisarmos os versos que se encontram mais adiante na música, veremos que há bases que sustentam essa afirmação, pois percebe-se que Manson deseja que a sua criação viva para sempre, que nunca estrague e que sua inocência seja preservada.

Na parte musical, "Tourniquet" mantém o arranjo suave da faixa anterior, com ainda mais elementos melódicos e ainda menos peso. Uma variação de atmosfera acontece aos 2 minutos e 45 segundos da música, em que as batidas se tornam mais intensas e a guitarra mais suja. Aliás, esse é um ponto a ser considerado: As guitarras desta música não são tão presentes como nas duas primeiras faixas A linha de frente é feita pelo baixo, que guia a música com precisão. Esse arranjo mais leve e suave ilustra bem o sentimento de solidão e isolamento mencionado pelo cantor, que canta os versos de uma forma a sustentar ainda mais esse sentimento.


Se a música é calma e leve, não se pode dizer o mesmo sobre o vídeo feito para ela. É uma produção grotesca, bizarra e extremamente desconfortável.

Seu conceito é simples: Retrata a criação da mulher descrita na letra, em detalhes. Ou seja, cenas de Manson retirando partes do seu corpo (Unhas, cabelos, pelos e até parte da pele) são recorrentes. 

O que realmente perturba e incomoda no vídeo são os flashes e cenas rápidas, nas quais vemos insetos sendo consumidos e a real aparência da mulher criada pelo vocalista: Um ser distorcido e caindo aos pedaços.
Também vemos algumas cenas de Manson sozinho em um quarto fechado, com diversos escritos na parede. Esse quarto representa o sentimento de solidão e angústia descritos na letra, corroborando a fala de Manson de que a letra é sobre a sua necessidade de atenção.

Porém, A parte essencial do vídeo é o final, quando vemos Manson e sua criação vestindo roupas com asas, simbolizando explicitamente a metamorfose a evolução do verme que é descrita ao longo ao álbum inteiro. Aqui, Manson ganha as suas asas, ou seja, se liberta daquilo que o prendia e o oprimia. Vamos aprofundar esse conceito mais a frente, já no segundo ciclo.

CICLO II: A INAUGURAÇÃO DO VERME

A partir daqui já vemos a narrativa do verme mais explícita. O verme, no contexto do álbum, é uma metáfora para Manson quando criança, ou seja, Brian Warner; um ser indefeso e insignificante que aos poucos vai ganhando suas asas, ou seja, vai crescendo e se desenvolvendo gradativamente. Ao ganhar suas asas, o verme (Brian) se livra de tudo aquilo que o prendia, de seus traumas e de sua criação religiosa para se tornar o grande anticristo Superstar (Marilyn Manson).
Aí se encontra o conceito do Super Homem de Nietzsche, um ser superior e livre de qualquer conceito de moral e religião, que exerce totalmente a sua vontade de potência (Em suma, um ser livre).

É a parte do álbum com mais músicas e com mais metáforas e analogias, além de, é claro, referências à vida do jovem Brian e à sua visão de mundo; tudo isso dentro da narrativa da ascensão do verme.

LITTLE HORN

Trazendo a violência e a agressividade das primeiras faixas de volta, essa também é uma composição baseada num pesadelo que Manson teve, dessa vez sobre um futuro apocalíptico em que mulheres têm suas mandíbulas presas e são forçadas a dançar em clubes noturnos para entreter uma seleta elite de pessoas. 

"Little Horn" também é um personagem bíblico, que aparece no livro de Daniel. Esse personagem também apareceu em um sonho e era um homem que pregava contra Deus. A referência é bem clara: O anticristo está nascendo.

A letra da música está toda centrada nesses dois episódios (O sonho e a Bíblia), trazendo descrições e previsões de sofrimento para toda a humanidade, assim como acontece na passagem bíblica (vide versos como "Out of the bottomless pit comes the little horn/ Little Horn is born" (De fora da cova sem fundo, vem o pequeno chifre/ O pequeno chifre nasceu) ), e mais do que isso, afirma que a humanidade sucumbirá e sofrerá aos pés de seu novo líder, vide linhas como "Everyone will suffer now" e "The world spreads its legs for another star / The world shows its face for another scar" (O mundo abre suas pernas para outra estrela / O mundo mostra a sua face para outra cicatriz). Essa letra, aliada ao caos que toma conta da parte instrumental da música trazem uma mensagem bem clara acerca dos eventos que estão por vir (Descitos nas outras faixas do disco): Preparem-se, pois ele está vindo.

CRYPTORCHID

Uma faixa pequena e curiosa. Aqui começamos e ter um contato efetivo com a natureza e o estado do verme, ainda pequeno e desprezível. É dividida em duas seções musicais distintas:

1) Tensa e misteriosa, descreve a opressão imposta pela sociedade sobre todos, como visto nos versos "But when they got to you / it's the first thing that they do" (Mas quando eles chegam a você / É a primeira coisa que eles fazem), que decrevem a perda da liberdade no momento em que os valores são impostos sobre os indivíduos.

Uma passagem interessante está no terceiro e quarto versos da música: "When a boy is still a worm it's hard to learn the number seven" (Quando um garoto é apenas um verme, é difícil aprender o número sete). Nessa construção, o número 7 representa o Paraíso e o céu, já que o número 6 representa o mal e o inferno. Com isso, Manson diz que a opressão social não possibilita aos cidadãos fazer aquilo com que se sentem confortáveis, pois muitas vezes esse comportamento não está de acordo com as normas sociais, já criticadas em "The Beautiful People". Isso de fato acontecia com o pequeno Brian.

2) Começa com um som de coração. É uma parte mais calma e otimista, com um arranjo de teclado suave e macio aos ouvidos, representando o começo da metamorfose do verme em um ser superior, vsita no verso "The angel has spread its wings" (O anjo abriu as suas asas). Assim como na faixa anterior, há previsões e considerações sobre os efeitos futuros do crescimento do verme, vide passagens como "The moon has now eclipsed the sun" (A lua agora encobriu o sol) e "The time has come for bitter things" (A hora chegou para coisas mais amargas. Esse verso faz um trocadilho bem pensado com a palavra "Better", trocando-a por "Bitter").


Também perturbador, mas agora com um ar de um vídeo antigo, com cenas grotescas que parecem ter saído dos cantos mais obscuros da Deep Web. O vídeo é uma parceira de Manson com o diretor Merhige, que dirigiu o clipe e cedeu algumas cenas de seu filmes de terror experimental "Begotten" para o clipe da música, que conta com uma pequena participação de Manson.

Não é um clipe com um contexto ou uma narrativa definida. Trata-se mais de uma experiência visual e sensorial a ser sentida pelo espectador.

DEFORMOGRAPHY

Uma das mais incomodantes do disco, essa é uma música repleta de caos e desordem, principalmente na parte instrumental. Começa lenta, mantendo um ritmo que lembra em alguns pontos o da faixa anterior, mas vai crescendo e adicionando cada vez mais camadas de guitarras até chegar em seu ápice, numa espécie de refrão em "You're such a dirty dirty superstar" (Você é um superstar sujo). Também são percebidos elementos mais evidentes do metal industrial nessa composição, como, por exemplo, as guitarras rítmicas pesadas e os sons eletrônicos ao fundo, além das diversas camadas de vocais distorcidos.

Liricamente, a letra leva o verme um nível adiante em sua evolução, agora já um ser autossuficiente e tomando a atitude e a aparência de seu estágio final de desenvolvimento. Manson também se dirige à uma pessoa específica em versos como "I'm the one you want and the one you want is so unreal" (Eu sou aquele que você quer e esse que você quer é tão irreal). Essa pessoa pode tanto ser o ouvinte como também pode ser o jovem Brian Warner, com grandes ambições de se tornar um astro. Ao dizer que "o que você quer é tão irreal", ele pode estar afirmando que a visão que Brian tinha do estrelato era falsa, que a verdade é suja, como também mostra o verso "You're such a dirty dirty superstar" (Você é um superstar sujo).

WORMBOY

A evolução e o metal industrial continuam em "Wormboy", que mantém a mesma base da anterior, tanto musicalmente quanto liricamente. Agora o verme está crescido, é um ser em estágio final de evolução, rememorando os eventos de quando ainda era um verme pequeno e insignificante (Ou seja, quando ainda era Brian Warner e não Marilyn Manson). Versos que apontam essa visão são "Then I got my wings and I never even knew it" (Então eu ganhei minhas asas e nem sabia disso), "When I was a worm, thought I wouldn't get through it" (Quando eu era um verme, pensava que não conseguiria passar por isso). Reparem que o uso do passado em "When I was a worm" indica que essa é uma fase passada, ou seja, a transformação está se completando. O Anticristo está surgindo.

MISTER SUPERSTAR

Está feita a transformação. O verme está morto, o anticristo superstar vive agora. É um ser superior, desejado e ovacionado por todos. A música que inaugura essa nova fase do verme é inicialmente cantada do ponto de vista dos amantes e seguidores do anticristo, afirmando que fariam tudo por ele, que o amam e que até se matariam por ele (I'll do anything for you / I just want to love you / I'll kill myself for you).

Porém, internamente, o Anticristo superstar está conflituoso, não sabe ao certo o que sentir. Está desiludido com o seu atual estado, perceba as desvantagens do estrelato e quer se desligar, como descrito em "I wish I could just turn you off / I never wanted this" (Eu queria poder desligá-lo / Eu nunca quis isso).

Mas, de qualquer forma, uma nova força está surgindo, como sugere o final caótico da música, que é mais falado do que precisamente cantada e mantém o mesmo arranjo durante praticamente a extensão inteira, exceto pela mudança de atmosfera no primeiro refrão, que lembra em alguns aspectos do metal melódico que seriam mais aproveitados na terceira parte do Triptych, que abordaremos em outra postagem.

ANGEL WITH THE SCABBED WINGS

Resultado de imagem para marilyn manson antichrist superstar coverO último estágio da consolidação do status do Anticristo é caótico e conflituoso. Musicalmente, é um dos momentos mais inspirados do disco, com um riff bem bolado e mudanças rítmicas bem colocadas. A atmosfera é tensa na música inteira, com vocais gritados e rasgados que dão a ela a agressividade necessária.

A letra trata de maneira mais profunda a dualidade da vida de um rockstar, abordando o conflito entre a essência e a aparência de um astro. Essa dualidade é trazida em versos que são colocados juntos, mas que possuem ideias totalmente opostas, como acontece em "He is the maker” (Ele é o criador) e "He is the taker" (Ele é o tomador), e também em "He is the savoiur" (Ele é o salvador) e "He is the raper" (Ele é o estuprador). O próprio título da canção já mostra esse conflito e essa antítese que há entre o que as pessoas acham que ele é e o que ele realmente é, pois, se traduzido literalmente, o título fica "Anjo com as asas cicatrizadas", ou seja, não é um anjo verdadeiro, apenas aparenta ser.

Apesar disso, continua a ser seguido, amado e endeusado por seus seguidores, como evidenciado em "Get back you're never gonna leave him" (Para trás, você nunca irá deixá-lo) e "Get back, you're always gonna please him" (Volte / você sempre irá agradá-lo). Ainda encontramos, na versão demo da música, uma linha que diz "Greater than God" (Maior do que Deus). Agora sim, o Anticristo Superstar reina absoluto, novos tempos chegaram.

(É uma das músicas mais conhecidas de Manson, sendo parte integrante de seu setlist até os dias de hoje)


KINDERFELD

É a única música do álbum que referencia explicitamente um evento real. É também uma das mais complexas, pois possui diversos personagens e pessoas que aparecem e narram os acontecimentos de seus próprios pontos de vista.

O acontecimento contido na letra da música é o fatídico momento em que Manson e seu primo, Chad, viram o seu avô, Jack Warner, em um ato grotesco de satisfação sexual, no porão da casa onde morava. Para acobertar os sons, Jack usava seu trem mecânico, que ficava ligado por todo o tempo enquanto o ato era realizado.

A letra traz referências evidentes sobre o evento, como em "When he turns the trains on he unties all the strings / When he turns the trains on, he makes it go away" (Quando ele liga os trens, ele desata todas as cordas / Quando ele liga os trens, ele faz com que isso vá embora). O que torna essa letra tão complexa, como mencionado antes, é o fato de que há pelo menos quatro pontos de vista sendo narrados em primeira pessoa. São eles:

1) Brian Warner: Narra aquilo que viu no dia, em versos como o transcrito no parágrafo anterior.

2) O Verme: O fase inicial do desenvolvimento do Anticristo também faz uma breve aparição na narrativa, nos versos "Tell me something beautiful / Tell me something free / Tell me something beautiful / and I wish that I could be" (Me diga algo bonito / Me diga algo livre / Me diga algo bonito / E que eu desejaria ser).

3) Marilyn Manson (Fase atual): Narra a dificuldade e o trauma de se viver com essa experiência quando criança. Aparece duas vezes, proferindo os mesmos versos, "Then I got my wings and I never even knew it / When I was a worm, thought I couldn't get through it" ( Então eu ganhei as minhas asas e eu nem sabia / Quando eu era um verme, pensava que não conseguiria passar por isso), em ambas as aparições. Mais uma vez o estado de verme é descrito no passado (Quando eu era um verme), confirmando que a transformação está completa.

4) Jack Warner: Aparece duas vezes. No primeiro momento, suas falas não são cantadas na música, sua "voz" é distorcida em um som mecânico, que lembra robôs de filmes de ficção científica. Seus versos são apenas transcritos na letra, e dizem "Come, come / The toys all smell like children / and the scab knees will obey / I'll have to kneel on bromsticks / Just to make it go away" (Venha, venha / O brinquedos têm cheiro de crianças / e os joelhoes feridos vão obedecer / Vou ter me ajoelhar em vassouras / Só para fazer isso ir embora). A parte de "ajoelhar em vassouras" se refere às punições severas sofridas por Brian e Chad.

A segunda aparição de Jack não representa uma fala do personagem, mas seus pensamentos, " The taste of metal / Desintegrator / Three holes upon the leather belt / it's cut and swollen / and the age is showing" ( O gosto de metal / Desintegrador / Três buracos no cinto de couro / está cortado e inchado / e a idade está aparecendo).

Além disso, no fim da música, vemos a aparição de um novo personagem, o Desintegrador, que pode ser um outro termo relacionado ao Anticristo. Já no fim da música, ele profere "This is what you should fear / You are what you shoul fear" (Isso é o que você deve temer / Você é o que você deve temer), anunciando o ápice da evolução do Desintegrador.


Fim do Segundo Ciclo.

CICLO III: A ASCENSÃO DO DESINTEGRADOR

Nesse que é o último ciclo do álbum, vemos a ascensão e a queda do Anticristo. Inicialmente ele é um ser adorado por todos, como já mostrada no fim do segundo ciclo. Porém, perto do fim do disco, ele sofre crises e desilusões acerca da imagem e da personalidade que adquiriu ao longo de sua jornada ao topo, até cair definitivamente.


ANTICHRIST SUPERSTAR

O ápice da metamorfose, a evolução se concluiu. O verme foi totalmente deixado para trás. A música que dá nome ao disco começa com o som do povo saudando e ovacionando o anticristo, respondendo com animação às batidas iniciais. Depois disso, as batidas dão lugar a um riff simples, porém cativante, que lembra em alguns aspectos as obras antigas do Black Sabbath. Os vocais são praticamente falados e distorcidos, e no refrão são multiplicados a ponto de ficarem totalmente incompreensíveis, lembrando até aspectos do Black Metal.

A letra não traz nada de tão surpreendente, conta como o Anticristo foi construído e como foi levado ao lugar em que está, até repetindo uma passagem que já tinha sido usada em "Cryptorchid" ("The angel has spread its wings" /"The moon has now eclipsed the sun" /"The time has come for bitter things").


O clipe traz novamente o conceito do líder fascista, que move multidões com seu poder. Logo no início vemos imagens de revoluções e exércitos, todos saudando uma imagem que, mais tarde, se revalaria como Manson. 
O vídeo é mais uma parceira do cantor com Merhige, o mesmo que dirigiu "Cryptorchid", o que explica a sua atmosfera confusa e desorganizada. Não possui uma linearidade ou uma narrativa a ser seguida, apenas mostra imagens de militares, guerras e do filme "Begotten" entrecortadas pela imagem de Manson num trono. Há momentos em que vemos o vocalista em seu palanque, que é usado até hoje nas apresentações a vivo dessa música, discursando ferozmente e rasgando uma Bíblia.
Por falar nisso, são as apresentações ao vivo de "Antichrist Superstar" que merecem uma análise, pois simulam em todos os aspectos um discurso público de um líder/ditador totalitário (Ou talvez de um líder religioso?). Bandeiras com o símbolo do Anticristo Superstar são hasteadas na parte de trás do palco e Manson se encontra vestido de terno e em um palanque de discursos, de onde manda beijos e saudações para a população e de onde, mais tarde, ele rasga um Bíblia, assim como no clipe.

1996
Uma declaração de ódio e uma síntese da proposta artística e conceitual desse disco, o Anticristo grita e profere seus pensamentos e críticas, declarando ser contra tudo e contra todos; ele é"Anti choice", "Anti sober", "Anti girl", "Anti People" e até "Antichrist Superstar", ou seja, ele é aquele que traz o caos e a discórdia para esse mundo. Assim, vemos que a profecia de "Little Horn" se concretizou, um monstro emergiu das profundezas (As profundezas, nesse caso, seriam representadas pelo pequeno verme que um dia o Anticristo fora). É uma música agressiva, traz alguns elementos do punk e mistura com o Metal Industrial, lembrando algumas características de "Irresponsible Hate Anthem".

1996 também é o ano de lançamento do álbum, então essa música também pode ser encarada como uma manifestação do próprio Marilyn Manson acerca da sua realidade e da sua proposta como artista.
MINUTE OF DECAY
Começa a crise e o processo de queda do Anticristo. Neste momento ele se sente vazio, sente que sua hora de decair chegou. Sente que tudo lhe falta, como demonstrado em "A lack of pain" / "A lack of hope" (Falta de dor/ Falta de esperança). Ele se sente morto, e considera desistir de tudo aquilo que ele criou ("I'd love to just give in"). A música é melancólica e arrastada, com um andamento mais lento e um vocal sofrido e triste. Há, contudo, algumas partes pesadas e agressivas na música, o que cria uma construção e uma atmosfera interessantes.
O prórpio Manson também se sentia assim. Em sua biografia, ele afirma que a produção desse disco foi um caos, e que ele se sentia sozinho e desolado em dado momento da composição. Desiludido pela ilusão da vida de rockstar, ele decaiu, assim como o personagem do disco, chegando a chorar ao gravar os vocais dessa canção. É um dos momentos mais inspirados e interessantes, mostrando musicalmente e liricamente a queda do Desintegrador, em versos como " I'm on my way down" (Estou decaindo) e "I feel the minute of decay" (Eu sinto o minuto de decair). 
THE REFLECTING GOD
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Manson e Anton LaVey
Mais uma pausa para a filosofia e a visão de mundo de Manson. Dessa vez, mergulhamos no seu individualismo, sobre como ele defende a filosofia de "Você é seu próprio Deus". Esse é um dos preceitos básicos do Satanismo de Anton LaVey, filosofia de vida que Manson seguia na época. O vocalista chegou a ter encontros  pessoais com o próprio LaVey, que ele narra em detalhes em seu livro, descrevendo a casa e as falas do fundador da igreja de Satã. Manson diz que foram conversas inspiradoras e que abriram seus olhos. eLE até chegou a ser promovido como ministro da igreja pelo próprio LaVey.
A filosofia do individualismo LaVeyano estão presentes em toda a construção da música, principalmente no pré-refrão que diz "I went to God just to see / And I was looking at me" (Eu fui a Deus só para ver / E eu estava olhando para mim) e no verso que diz "When I'm God everybody dies" (Quando eu sou Deus, todos morrem).
Há uma variação interessante nos 4 minutos e 15 segundos da música, passagem em que a música deixa a agressividade de lado e faz uma pequena pausa acústica (Aparentemente gravada ao vivo) em que são cantando o pré-refrão e o refrão.
Também é uma das mais bem conceituadas do disco, sendo executado eventualmente por Manson em seus shows atuais.
MAN THAT YOU FEAR
Talvez um dos momentos mais emotivos de Manson em toda a sua carreira, aqui se dá o final definitivo do Anticristo, quando ele percebe que ele se tornou tudo àquilo que ele mais desprezava. Em uma passagem do seu livro, Manson chega a se comparar com seu avô, que ele desprezava devido aos eventos narrados em "Kinderfeld".
Há uma ironia interessante nesse acontecimento. Há uma frase de Nietzsche que diz "Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro". Manson lutou a sua vida inteira lutando contra seus traumas e contra aquilo que achava errado, para no final se tornar a personificação daquilo que lhe amedrontava, como exemplificado em "The boy that you love is the man that you fear" (O garoto que você ama é o homem que você odeia).
Musicalmente, a música começa lenta, com um piano que toca um arranjo suave que lembra aqueles usados em antigos clubes de jazz. A música vai crescendo gradativamente, sons e instrumentos vão sendo adicionados até a música chegar ao meio, quando vozes sobrepostas proferem versos individuais, até que a suavidade volta. Mais para frente, o vocal se torna mais agressivo e alguns elementos industriais eletrônicos são percebidos. No final, o caos volta, com uma série de sons sobrepostos que formam uma desordem sonora imensa, até que ouvimos vozes dizendo "When your wishes are granted / Many of your dreams will be destroyed" (Quando seu desejos são atendidos / Muitos de seus sonhos serão destruídos).
É o fim do Anticristo, ele se foi.


O vídeo dessa música é diferente de todos os que foram apresentados para as outras músicas. Não é uma crítica perturbadora de "The Beautiful People", não é grotesco e agonizante como "Tourniquet" e nem é um pesadelo caótico e desordenado de Merhige. Muito pelo contrário, é bem produzido e visualmente limpo.

A história é baseada na história "The Lottery", de Shirley Jackson, que traz a narrativa de um vilarejo em que, anualmente, uma pessoa é escolhida aleatoriamente para ser apedrejada. No vídeo, Manson é a pessoa escolhida.
O clipe começa com o processo de escolha: Uma menina cobre a cabeça com um saco e gira até parar em uma acomodação aleatória. Na casa escolhida, vivem Manson, uma mulher (talvez sua esposa) e uma pequena menina (Talvez sua filha). Ao ver que sua casa foi escolhida, a menina entra e acorda pai, que está dormindo. Neste momento, vemos algo que não vimos nos outros vídeos: Manson com o rosto praticamente limpo, quase sem maquiagem.

Logo em seguida, vemos Manson se despedindo de sua filha e colocando a maquiagem. 

Já saindo do trailer em que vive, o vemos com seu traje completo, começando assim a sua caminhada até o destino fatal.

Durante a caminhada, Manson cai no chão uma vez, fazendo referência ao episódio da crucificação de Jesus.
Chegando ao local da execução, todos dão uma última olhada para o condenado e pegam suas pedras. Antes do final, vemos Manson se despindo  e abrindo os braçoes, como se aceitando a sua situação.

FAIXA 99

"Espera um pouco. O álbum não acabou? Não vejo nenhuma outra música listada na lista da parte de trás do disco.". 

Esse deve ter sido o pensamento dos compradores e ouvintes da edição original em CD de "Antichrist Superstar". Após a última música, "Man That You Fear", faixas silenciosas são repetidas, e passam despercebidos ao ouvinte. Ao chegar à faixa de número 99, ouvimos um ruído em uma voz igual ao da primeira faixa, "Irresponsible Hate Anthem".

 A voz profere a seguinte fala (traduzida para o português):

"Vá em frente e construa um Messias melhor, nós conseguimos cavar outra cova. Esse é o seu chamado. Se você está ouvindo isso, não há nada que eu possa fazer. Alguma coisa cresceu em meu peito, e eu a vi. É dura e fria. Eu tentei salvá-lo, mas eu não posso. Mas isso é o que você merece; isso é o que nós merecemos. É algo que nós trouxemos para cima de nós. Nós não somos vítimas, você não é uma vítima. Deus se submeterá a mim. Deus se arrastará em meus pés. Esse são os anos de morte. E quando você estiver sofrendo, saiba que eu te enganei"

Note que a última frase da faixa 99 é a primeira frase da primeira faixa, e a voz e os ruídos são os mesmos, ou seja, o álbum forma um loop perfeito. Ele começa na faixa secreta 99, a voz que profere o discurso é o Anticristo do futuro, aquele que trará o ódio e desgraça para a humanidade.

ASSIM, O CICLO DO VERME SE REINICIA.
Esse loop pode ser entendido como uma metáfora para a ambição humana, e como os indivíduos sempre estão em um ciclo vicioso de egocentrismo e rebeldia.

DEAD TO THE WORLD TOUR

Dead to the World coverSeja qual fosse o tamanho da insatisfação de Manson com o processo de produção do disco, parece que não durou muito. O álbum foi um sucesso e "The Beautiful People" estourou.

Para a promoção do disco, Manson saiu em uma grande turnê mundial (Que teve um show reliazado no Rio de Janeiro) , que ficou famosa não porque a banda lotava os estádios por onde passava, mas devido pela agressividade das performances. Manson se cortava e cantava sangrando, além de fazer gestos obscenos com a bandeira dos EUA.

Tudo isso e as imagens do ambiente caótico que era o backstage estão documentadas na gravação que leva o mesmo nome da turnê. Não há DVDs dessa gravação, apenas fitas VHS, mas uma reedição vem sendo comentada nos últimos anos.

Apenas nessa primeira parte da sua sequência de três discos, já percebemos a complexidade da obra de Manson, que consegue abordar temas da natureza humana e da hipocrisia social de uma forma natural e espontânea, colocando ainda uma grande metáfora sobre a ascensão e a queda do ser humana em seu processo de ambição e egoísmo. Uma obra atemporal e que merece todo o reconhecimento possível.


NOTA: 9,7

Imagens retiradas de:
http://esunatrampa.com/2016/10/08/antichrist-svperstar-%E2%80%A2-vigesimo-aniversario/
Vídeos disponíveis no canal "MarilynMansonVEVO"