sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Review #121 - Meliora (Ghost)

Mais uma era tem início no Ghost. É esse o primeiro pensamento ao ouvir o empolgante e surpreendente "Meliora", o tão esperado sucessor de "Infestissumam" (Review #119) e um dos lançamentos mais esperados de 2015. Diferentemente daquela presente em seus antecessores, a temática abordada neste trabalho é mais otimista e filosófica, convidando o ouvinte a refletir sobre a vida e seus conceitos, o que difere muito de canções como "Year Zero" e "Death Knell". Para isso, a banda propõe uma grande jornada à um mundo futurista. Musicalmente, o álbum surpreende até mesmo aos fãs mais fiéis da banda, por trazer músicas com uma sonoridade e um estilo bem diferentes daqueles explorados pela banda nos dois álbuns anteriores. "Meliora" traz uma síntese dos arranjos pesados de "Opus Eponymous" e das melodias hipnorizantes de "Infestissumam", o que resulta num álbum sólido e dinâmico, o que evidencia a evolução da banda desde a sua formação em 2008. "Spirit" é a faixa escolhida para a abertura do disco. A música age como uma guia, um ato introdutório ao universo de "Meliora", por isso possui uma atmosfera tão épica e cativante. Ao se ouvir esta faixa, logo de cara somos levados à um clima típico de filme de futurista dos anos 60/70, proporcionado pela união entre teclado e coral que abre a música. Nesta música, se destaca o arranjo pesado que evidencia a evolução técnica da banda, com riffs muito bem desenvolvidos e um teclado bem presente. De acordo com um Nameless Ghoul, o riff de "Spirit" veio quando a banda estava ensaiando para a sua segunda turnê. Terminada a introdução, é hora de entrar de vez no universo do álbum. O riff de baixo anuncia o começo de "From The Pinnacle To The Pit" (Mini-Review #6), um dos grandes destaques e segundo single do álbum. Os vocais de Emeritus III se destacam nessa faixa, assim como a seção que se inicia aos 1:40 da música, onde a atmosfera tensa e repetitiva (porém bem feita) da música muda para uma mais cativante e que traz um pequeno ar de otimismo, onde pode-se ouvir Emeritus cantando em uníssono com  o coral e o teclado. A propósito, deve-se mencionar que os vocais são um ponto alto de todo o álbum. Quanto a sua temática, a música parece lidar com a ideia do poder e da ambição humana, se basearmos essas suposições no videoclipe da música. A atmosfera tensa e o arranjo pesado se mantêm em "Cirice", terceira faixa e primeiro single do álbum, cuja capa faz uma brilhante releitura da capa do filme "O Silêncio dos Inocentes", 1991. A música começa com um arranjo acústico bem leve, apresentando o tema que será explorado no começo da canção. o clima vai crescendo, ainda com o arranjo acústico, até chegar ao seu ápice e começar de verdade, com uma performance incrível de guitarras que, aliás, levam destaque pelo incrível solo que nos é apresentado nessa música. Outro fato curioso sobre "Cirice" é o de que ela é a primeira música do Ghost a apresentar um solo de teclado propriamente dito que, apesar de breve, nos mostra que a banda ainda tem muitas cartas na manga quando se trata de técnica e musicalidade. O clipe da faixa é uma atração a parte, pois traz uma pequena versão de Emeritus e lida com as forças do sobrenatural. Quanto ao tema abordado, um dos Ghouls afirma que "O ouvinte está livre para interpretar a mensagem mais profunda- apesar do tema literal ser a manipulação de uma igreja, por exemplo". "Spöksonat" é um pequeno interlúdio acústico de pouco menos de um minuto, onde pode-se perceber a presença do trítono; sequência de notas muito explorada pelas bandas de Doom Metal e também está presente na lendária faixa "Black Sabbath", da banda homônima, em "Am I Evil", da banda Diamond Head. A faixa age como uma transição entre as atmosferas das primeiras faixas e do clima que será explorado na próxima música. A temática, a atmosfera e até os instrumentos mudam nessa que pode ser considerada a mais atípica das canções desse álbum. "He Is" é com certeza uma surpresa bastante agradável para todos ouvintes, fãs fiéis da banda ou não. Começando com mais um arranjo acústico, a faixa traz um refrão cativante cantado pelo Papa e pelo coral. Diferente de tudo o que a banda vinha explorando até então, a faixa permanece numa atmosfera suave e com vocais limpos. O mais próximo que a banda havia feito de algo assim era a primeira parte de "Ghuleh / Zombie Queen". A sua temática é bem clara: A exaltação à "besta de muitos nomes" que se encontra no fundo do abismo. "He Is" é a escolha perfeita para fechar o Lado A do álbum de uma forma inusitada e imprevisível, mostrando toda a capacidade musical que a banda tem para mostrar ao público. O próximo lado começa com "Mummy Dust"  que leva o título de faixa mais pesada do álbum. Com vocais extremamente sujos e com um instrumental pesado, a música retoma a atmosfera que vinha sendo construída antes de "He Is". Lembrando vagamente alguns elementos do Thrash Metal característico do banda Megadeth, a música age como uma nova introdução ao univeros futurista do álbum, assim como "Spirit". Em contraponto à essa faixa, vem "Majesty", uma faixa que se baseia mais na parte melódica do que na propriamente técnica. Terceiro single do álbum, "Majesty" é um dos pontos altos das apresentações ao vivo da banda desde o começo do ano. De acordo com um dos Ghouls, a composição dessa música data das sessões de gravação de "Infestissumam". Ele ainda afirma que o refrão original da música era diferente do atual. O refrão que se ouve no álbum é "Old one, master,all beauty lies within you" ( Velho, mestre, toda beleza se encontra dentro de você), a proposta original para essa parte era : "Satan, master, all beauty lies within you" (Satã, mestre, toda beleza se encontra dentro de você). O motivo da troca, segundo o Ghoul, foi justamente a palavra "satan", no último álbum, impediu que uma música de "Infetissumam" (Year Zero?) fosse tocada nas rádios. Sendo o terceiro single do álbum, "Majesty" também possui uma releitura em sua capa, nesse caso do filme "King Kong". Logo após, os ouvintes são presenteados com mais um pequeno interlúdio antes do grande final do álbum. A intenção original de "Devil Church" era a de ser a introdução de "Cirice", mas acabou sendo colocada como uma faixa à parte das demais, para reforçar a ideia do álbum ser uma jornada.  "Absolution", penúltima faixa do álbum, é mais um dos grandes destaques desse trabalho, pois alia melodia, técnica e letra para formar uma verdadeira obra-prima. Lançada como Lado B do single "Cirice", a música é intensa desde os primeiros acordes e traz uma atmosfera bem pesada, além de um refrão cativante. Mais uma vez, Emeritus impressiona nos vocais, mostrando que evoluiu bastante desde o primeiro álbum. A temática e a letra de "Absolution" podem ser consideradas as melhores de todo o álbum, pois lidam com a ideia de pecado aliado à ambição humana. Definitivamente uma das melhores faixas do grupo. Essa grande viagem tem seu fim em "Deus In Absentia", mais uma grande surpresa ao ouvinte. Assim como "He Is", a faixa traz um estilo até então nunca explorado pela banda com uma temática ainda mais obscura. Em uma entrevista, um dos membros da banda afirma que "Deus In Absentia" ("Na ausência de Deus") essa música trata justamente da ausência de Deus nos dias atuais. Quando Deus se foi, nós criamos a internet e as Guerras. Musicalmente, a música se contrapõe a sua temática, pois traz uma atmosfera bem  otimista. Começando com o som de um relógio, a música conta com diversas sessões, que vão desde um ritmo que lembra ritmos latinos até os corais de uma igreja. Foi a escolha perfeita para fechar essa verdadeira obra-prima que ainda conta com uma faixa Bônus na sua versão de luxo. "Zenith" está presente apenas no box set que foi lançado juntamente com o álbum. É uma faixa que segue o estilo do álbum e que possui outra releitura em sua capa, dessa vez do filme "O Bebê de Rosemary". De modo geral, "Meliora" mostra a incrível evolução técnica e musical do Ghost, e que prova que o grupo ainda tem muito a mostrar tanto aos ouvintes casuais quanto aos fãs.

NOTA: 9,4


  

Um comentário:

Didi Valença disse...

André, ouvir as músicas com seus excelentes comentários foi um prazer, pois aprendi e apreciei cada uma delas com outra percepção.
Parabéns!