Se
existe uma grande injustiça no mundo do metal, é o fato do Testament não
receber a atenção que merece. Já são mais de trinta anos que o grupo
californiano vem trazendo grandes álbuns e incontáveis contribuições para o
cenário do Thrash, estilo que a banda nunca abandonou desde a sua formação.
"Brotherhood
Of The Snake" é, talvez, uma síntese de tudo aquilo que o Testament trouxe
(e ainda traz) aos ouvidos dos fãs, mas também com influência de estilos mais
novos e modernos. É um álbum de Thrash agressivo e direto, mas com uma boa presença
de melodias tanto vocais como instrumentais. Seguindo uma proposta diferente
dos discos anteriores, "Brotherhood" traz um conceito
pré-estabelecido, como diz o vocalista Chuck Billy: "É um tipo de álbum
conceitual.". Irmandades, sociedades secretas e aliens são alguns dos
temas presentes no disco, que também traz temáticas reais e presenciáveis, como
a legalização da maconha (Na música "Canna-Business") e a operação
que matou Osama Bin Laden.
Uma
das características marcantes em todas as faixas do disco é a grande frequência
de mudanças de ritmo, tom e atmosfera em uma mesma música, criando assim
pequenas esferas e universos dentro de cada canção, que se constroem individualmente
e que fazem do álbum uma experiência bem mais baseada em cada faixa do que em
um conceito geral.
DESTAQUES:
Abrindo
com um Thrash Metal "de raiz", a banda aqui mostra que não perdeu o
jeito durante os mais de trinta anos de carreira. Com um andamento bem marcado
e ritmado, a faixa é guiada totalmente guiada pela bateria de Gene Hoglan, que
protagoniza uma performance de tirar
o fôlego. Chuck Billy mostra que não perdeu a forma em seus vocais sujos e
agressivos que dão à música o peso que ela precisa. É interessante notar os
aspectos melódicos já presentes na faixa título do álbum, principalmente no tema/solo
do meio da música (Que lembra em muitas características alguns arranjos de
Power Metal) , que imediatamente dá lugar à agressividade dos guturais de Billy,
trazendo uma antítese interessante entre o melódico e o grotesco. A letra trata
de uma suposta irmandade, datada de 6000 anos atrás, cujo objetivo consistia em
acabar com a religião do mundo. Pode-se fazer um paralelo entre o que é descrito nessa faixa e as formas de governos atuais, principalmente por meio de versos como "Defending The truth and protecting the lies" e "They've been watchinig you, through shape shift eyes". A Música e a letra se combinam muito bem aqui,
trazendo uma atmosfera única a esse que é um dos pontos altos do disco e que
estabelece a direção que seria tomada nas demais faixas.
Mantendo
a agressividade da faixa anterior no riff inicial, "The Pale King"
apresenta um arranjo mais moderno, evidenciando algumas influências mais
evidentes (Lembra té o Hard Rock em alguns aspectos mínimos). Quanto a temática,
Chuck é bem específico: "Quando Eric (Peterson, guitarrista e principal
compositor desse álbum) me deu o título dessa música, imaginei um grande Alien
branco tentando dominar a humanidade". Tal inspiração veio, como o próprio
vocalista afirma, do programa "Ancient Aliens" (Alienígenas do
Passado, em português). É bem mais melódica que a anterior, principalmente no
refrão, que encosta um pouco no comercial. A grande questão é: Seriam essas quebras
de clima melódicas uma coisa boa ou ruim? Não se pode
determinar ao certo, mas pode-se dizer que é um recurso que, quando bem usado,
traz uma nova proposta para as composições.
3) Seven Seals
Talvez a faixa mais
épica de "Brotherhoord Of The Snake", esse é um dos melhores momentos
do álbum para Eric Peters. Apresenta uma
boa interpretação de Chuck Billy (Que também cita essa como uma das suas músicas
favoritas), mostrando mais uma vez a sua grande capacidade vocal, e também
conta com várias seções bem definidas e que transitam naturalmente entre si. O
refrão é simples, melódico e bem acessível ao público em geral. Foi uma das
últimas músicas a serem compostas e traz à tona o conceito dos "Sete
Selos", descritos no livro de "Apocalipse" da Bíblia. É
realmente um dos momentos mais marcantes do álbum; conta até com um solo que
lembra o Slayer, banda com a qual o Testament mantém boas lembranças.
As referências bíblicas em "Seven Seals"
As referências bíblicas em "Seven Seals"
A música faz referência ao livro de
apocalipse, escrito pelo apóstolo João, o qual por meio de uma revelação divina
escreveu o texto, direcionado principalmente às sete igrejas que estão na Ásia,
as quais ele faz menção em sua dedicação.
O livro de apocalipse
faz menção, em certas visões cristãs, ao final dos tempos, ao momento em que um falso Deus se levantará , o qual a
música faz referência no trecho "Beware as the false God deceives", criando uma ligação a vários trechos bíblicos, dentre eles Apocalipse 13:8,14 e
15, que dizem, respectivamente: “E
adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão
escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do
mundo.”. Essa adoração é referente à besta, ou seja, o falso Deus que levará
muitos ao caminho da perdição no final dos tempos, o qual será pregado por seu
falso profeta nomeado anticristo, referente aos versículos 14 e 15- "E
engana aos que habitam na terra e com sinais que lhe foi permitido que fizesse
em presença da besta, dizendo aos que habitam na terra que fizesse uma imagem à
besta que recebera a ferida da espada e vivia".
"E foi-lhe
concedido que desse espirito à imagem da Besta, para que também a imagem da
besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem
da Besta."
A música faz outra referência
que está no centro de seu tema e que lhe dá nome, relativo aos capítulos 5,6 e
8, os quais se referem ao livro com os tais sete selos, que é citado pelo
versículo primeiro do capitulo 5- “E vi na destra do que estava assentado sobre
o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos” descrito
na música no trecho "Prophecy was written in the pages of old / what will theses words reveal locked away and hidden until teh end of time / the only way to open is to break all the seals".
Esse livro citado diz respeito ,na visão interpretativa, sobre o início do fim, o começo do apocalipse, que será iniciado por Jesus Cristo, citado na música “Revelation tells us, weep not behold for the lion of Judah prevails Christ wins the fight with Satan the devil he alone can now open the book from the seals”, referindo-se ao versículo 5 do cap.5.
Os outros trechos da
musica referem-se aos Capítulos 6 e 8, nos quais é relatada a abertura dos 7
selos e suas consequências aos habitantes da terra, que serão assolados por
catástrofes, guerra, morte, dor, sofrimento advindo do que foi escrito no livro
dos 7 selos, marcado pela vitória de Cristo sobre a cobra do Éden, o diabo.
Conclui-se da música uma visão bíblica sobre os fins
dos tempos marcada no refrão: "Till the end of time, as it was written, it's the end of the line, let it be done".
4) Neptune's Spear
Sem dúvidas, aqui se
encontra o ponto alto do disco. Com uma introdução lenta e pesada, que vai crescendo
e construindo até os versos com um arranjo não tão inovador musicalmente, essa
música é uma narrativa sobre a complexa operação que planejava matar o
terrorista Osama Bin Laden, e que foi bem sucedida em sua missão. Foi uma sobra
de estúdio das sessões de "Dark Roots Of Earth" (Álbum que antecedeu
"Brotherhood Of The Snake"). Trazendo visões dos soldados americanos no
fatídico dia, a música traz diversas referências explícitas acerca dos
objetivos e dos motivos ("The
Destiny of a nation, identity confirmed" e "Why Has It taken so long?)
por trás da operação que teve o mesmo
nome da música, além de trazer detalhes de sua execução ("The target is now in position, shot, fire, in will" e no
refrão "One Shot Kill), contando até com som de helicópteros nos
final; simulando a chegada dos EUA em território inimigo. Em aspectos musicais,
"Neptune's Spear" traz uma série de elementos distintos que se
encaixam perfeitamente em um único ciclo. Possui um refrão oscilante que sobe e desce e também um
solo que, em primeiro momento, é bem técnico e rápido. Porém, o verdadeiro
destaque está no melódico tema de guitarras gêmeas com pedal duplo ao fundo
(Começa aos 2:55), precedido por um pequeno tema árabe (Muito bem pensado), que
termina mo momento em que uma das guitarras mantém o tema enquanto a outra faz
variações sobre ele. Percebemos também uma influência discreta da música
clássica nessa passagem, principalmente no solo de Alex Skolnick. A música
termina em uma base que se mantém até a chegada dos helicópteros. Sem falha
alguma e precisa em todos os aspectos, essa é a faixa que resume o álbum.
5) The Number Game
Última e mais pesada do
disco, "The Number Game" traz uma temática recorrente em músicas de
Thrash: Serial Killers. Aqui temos um
assassino que mata cada vítima e lhes dá um número, matando uma por dia (Por
isso o refrão: "Forty Days, Forty Lives". Eric afirma que essa foi a
faixa mais difícil de compor e gravar, devido a sua velocidade e técnica
exigente. A sessão central da música lembra muitos arranjos dos estilos de de metal moderno, como metalcore, devido a seu ritmo pesado e direto, praticamente guiado
pela bateria, enquanto as guitarras e o baixo apenas acompanham o ritmo. Uma
grande música para fechar o álbum em grande estilo.
NOTA: 9,5
COLABORADOR: NATAN CARLOS C. COSTA
FONTES:
https://www.youtube.com/watch?v=uROUJa2DLFc&list=PLB4brr7vf-P4abyzFKN3TIAFvwUQNA6Xx
Revista Rodie Crew, edição 213, 2016
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