sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Testament: Fiel às sua raízes (Review - Brotherhood Of The Snake)

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Se existe uma grande injustiça no mundo do metal, é o fato do Testament não receber a atenção que merece. Já são mais de trinta anos que o grupo californiano vem trazendo grandes álbuns e incontáveis contribuições para o cenário do Thrash, estilo que a banda nunca abandonou desde a sua formação.

"Brotherhood Of The Snake" é, talvez, uma síntese de tudo aquilo que o Testament trouxe (e ainda traz) aos ouvidos dos fãs, mas também com influência de estilos mais novos e modernos. É um álbum de Thrash agressivo e direto, mas com uma boa presença de melodias tanto vocais como instrumentais. Seguindo uma proposta diferente dos discos anteriores, "Brotherhood" traz um conceito pré-estabelecido, como diz o vocalista Chuck Billy: "É um tipo de álbum conceitual.". Irmandades, sociedades secretas e aliens são alguns dos temas presentes no disco, que também traz temáticas reais e presenciáveis, como a legalização da maconha (Na música "Canna-Business") e a operação que matou Osama Bin Laden.

Uma das características marcantes em todas as faixas do disco é a grande frequência de mudanças de ritmo, tom e atmosfera em uma mesma música, criando assim pequenas esferas e universos dentro de cada canção, que se constroem individualmente e que fazem do álbum uma experiência bem mais baseada em cada faixa do que em um conceito geral.

DESTAQUES:


Abrindo com um Thrash Metal "de raiz", a banda aqui mostra que não perdeu o jeito durante os mais de trinta anos de carreira. Com um andamento bem marcado e ritmado, a faixa é guiada totalmente guiada pela bateria de Gene Hoglan, que protagoniza uma performance de tirar o fôlego. Chuck Billy mostra que não perdeu a forma em seus vocais sujos e agressivos que dão à música o peso que ela precisa. É interessante notar os aspectos melódicos já presentes na faixa título do álbum, principalmente no tema/solo do meio da música (Que lembra em muitas características alguns arranjos de Power Metal) , que imediatamente dá lugar à agressividade dos guturais de Billy, trazendo uma antítese interessante entre o melódico e o grotesco. A letra trata de uma suposta irmandade, datada de 6000 anos atrás, cujo objetivo consistia em acabar com a religião do mundo. Pode-se fazer um paralelo entre o que é descrito nessa faixa e as formas de governos atuais, principalmente por meio de versos como "Defending The truth and protecting the lies" e "They've been watchinig you, through shape shift eyes". A Música e a letra se combinam muito bem aqui, trazendo uma atmosfera única a esse que é um dos pontos altos do disco e que estabelece a direção que seria tomada nas demais faixas.


Mantendo a agressividade da faixa anterior  no riff inicial, "The Pale King" apresenta um arranjo mais moderno, evidenciando algumas influências mais evidentes (Lembra té o Hard Rock em alguns aspectos mínimos). Quanto a temática, Chuck é bem específico: "Quando Eric (Peterson, guitarrista e principal compositor desse álbum) me deu o título dessa música, imaginei um grande Alien branco tentando dominar a humanidade". Tal inspiração veio, como o próprio vocalista afirma, do programa "Ancient Aliens" (Alienígenas do Passado, em português). É bem mais melódica que a anterior, principalmente no refrão, que encosta um pouco no comercial. A grande questão é: Seriam essas quebras de clima melódicas uma coisa boa ou ruim? Não se pode determinar ao certo, mas pode-se dizer que é um recurso que, quando bem usado, traz uma nova proposta para as composições.

3) Seven Seals

Talvez a faixa mais épica de "Brotherhoord Of The Snake", esse é um dos melhores momentos do álbum para Eric Peters.  Apresenta uma boa interpretação de Chuck Billy (Que também cita essa como uma das suas músicas favoritas), mostrando mais uma vez a sua grande capacidade vocal, e também conta com várias seções bem definidas e que transitam naturalmente entre si. O refrão é simples, melódico e bem acessível ao público em geral. Foi uma das últimas músicas a serem compostas e traz à tona o conceito dos "Sete Selos", descritos no livro de "Apocalipse" da Bíblia. É realmente um dos momentos mais marcantes do álbum; conta até com um solo que lembra o Slayer, banda com a qual o Testament mantém boas lembranças.

As referências bíblicas em "Seven Seals"


A música faz referência ao livro de apocalipse, escrito pelo apóstolo João, o qual por meio de uma revelação divina escreveu o texto, direcionado principalmente às sete igrejas que estão na Ásia, as quais ele faz menção em sua dedicação.

O livro de apocalipse faz menção, em certas visões cristãs, ao final dos tempos, ao momento  em que um falso Deus se levantará , o qual a música faz referência no trecho "Beware as the false God deceives", criando uma ligação a vários trechos bíblicos, dentre eles Apocalipse 13:8,14 e 15, que dizem, respectivamente:  “E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.”. Essa adoração é referente à besta, ou seja, o falso Deus que levará muitos ao caminho da perdição no final dos tempos, o qual será pregado por seu falso profeta nomeado anticristo, referente aos versículos 14 e 15- "E engana aos que habitam na terra e com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta, dizendo aos que habitam na terra que fizesse uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia".

"E foi-lhe concedido que desse espirito à imagem da Besta, para que também a imagem da besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da Besta."
A música faz outra referência que está no centro de seu tema e que lhe dá nome, relativo aos capítulos 5,6 e 8, os quais se referem ao livro com os tais sete selos, que é citado pelo versículo primeiro do capitulo 5- “E vi na destra do que estava assentado sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos” descrito na música no trecho "Prophecy was written in the pages of old / what will theses words reveal locked away and hidden until teh end of time / the only way to open is to break all the seals".

Esse livro citado diz respeito ,na visão interpretativa, sobre o início do fim, o começo do apocalipse, que será iniciado por Jesus Cristo, citado na música “Revelation tells us, weep not behold for the lion of Judah prevails Christ wins the fight with Satan the devil he alone can now open the book from the seals”, referindo-se ao versículo 5 do cap.5.

Os outros trechos da musica referem-se aos Capítulos 6 e 8, nos quais é relatada a abertura dos 7 selos e suas consequências aos habitantes da terra, que serão assolados por catástrofes, guerra, morte, dor, sofrimento advindo do que foi escrito no livro dos 7 selos, marcado pela vitória de Cristo sobre a cobra do Éden, o diabo.


Conclui-se da música uma visão bíblica sobre os fins dos tempos marcada no refrão: "Till the end of time, as it was written, it's the end of the line, let it be done".    

4) Neptune's Spear

Sem dúvidas, aqui se encontra o ponto alto do disco. Com uma introdução lenta e pesada, que vai crescendo e construindo até os versos com um arranjo não tão inovador musicalmente, essa música é uma narrativa sobre a complexa operação que planejava matar o terrorista Osama Bin Laden, e que foi bem sucedida em sua missão. Foi uma sobra de estúdio das sessões de "Dark Roots Of Earth" (Álbum que antecedeu "Brotherhood Of The Snake"). Trazendo visões dos soldados americanos no fatídico dia, a música traz diversas referências explícitas acerca dos objetivos e dos motivos ("The Destiny of a nation, identity confirmed" e "Why Has It taken so long?)  por trás da operação que teve o mesmo nome da música, além de trazer detalhes de sua execução ("The target is now in position, shot, fire, in will" e no refrão "One Shot Kill), contando até com som de helicópteros nos final; simulando a chegada dos EUA em território inimigo. Em aspectos musicais, "Neptune's Spear" traz uma série de elementos distintos que se encaixam perfeitamente em um único ciclo. Possui um  refrão oscilante que sobe e desce e também um solo que, em primeiro momento, é bem técnico e rápido. Porém, o verdadeiro destaque está no melódico tema de guitarras gêmeas com pedal duplo ao fundo (Começa aos 2:55), precedido por um pequeno tema árabe (Muito bem pensado), que termina mo momento em que uma das guitarras mantém o tema enquanto a outra faz variações sobre ele. Percebemos também uma influência discreta da música clássica nessa passagem, principalmente no solo de Alex Skolnick. A música termina em uma base que se mantém até a chegada dos helicópteros. Sem falha alguma e precisa em todos os aspectos, essa é a faixa que resume o álbum.

5) The Number Game

Última e mais pesada do disco, "The Number Game" traz uma temática recorrente em músicas de Thrash: Serial Killers. Aqui temos um assassino que mata cada vítima e lhes dá um número, matando uma por dia (Por isso o refrão: "Forty Days, Forty Lives". Eric afirma que essa foi a faixa mais difícil de compor e gravar, devido a sua velocidade e técnica exigente. A sessão central da música lembra muitos arranjos dos estilos de  de metal moderno, como metalcore, devido a seu ritmo pesado e direto, praticamente guiado pela bateria, enquanto as guitarras e o baixo apenas acompanham o ritmo. Uma grande música para fechar o álbum em grande estilo.

NOTA: 9,5


COLABORADOR: NATAN CARLOS C. COSTA

FONTES:
https://www.youtube.com/watch?v=uROUJa2DLFc&list=PLB4brr7vf-P4abyzFKN3TIAFvwUQNA6Xx
Revista Rodie Crew, edição 213, 2016


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