quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

The Rolling Stones: Olhando no retrovisor e reverenciando suas origens. (Review - Blues & Lonesome)

Resultado de imagem para blue & lonesome rolling stones coverRespeito, gratidão, competência e muito sentimento. Essas são as definições mínimas para o último trabalho dos Rolling Stones. “Blue & Lonesome” não é um álbum comum. Os amantes do blues, incluindo este que vos escreve, estão acostumados a lançamentos de compilações do gênero, lançados por grandes artistas como Eric Clapton e Keb’ Mo’ que gravaram homenagens competentes a Roberto Johnson por exemplo.

Mas o álbum dos Stones representa algo mais, a começar pelo fato de que o blues nunca foi o carro chefe da banda. Entretanto, as suas raízes vão fundo no estilo e sempre serviram de base para suas composições. Nas palavras de Keith Richards “Se você não conhece o blues...Não há sentido em pegar uma guitarra e tocar rock’n roll ou qualquer outra forma de música popular.”

E eles escolheram o blues de Chicago e seus  compositores da velha escola para esse tributo. Aos menos avisados, nomes como Walter Jacobs, Samuel Maghett e Chester Burnett, constantes dos créditos, podem soar estranhos. Entretanto, o ouvinte mais envolvido reconhece de imediato os grandes Little Walter, que assina quatro das doze faixas, Magic Sam e Howlin’ Wolf. Outro ícone do blues de Chicago que assina duas faixas do álbum é Willie Dixon, que vem acompanhado de outros compositores menos referenciados como Lermon Horton, Jimmy Reed, Jerry West e Otis Hicks.

O álbum foi gravado em inacreditáveis três dias (11, 14 e 15.12.2015), feito inédito para a banda que foi retratado nas seguintes palavras de Mick Jagger: “Nós nunca fizemos um álbum como este antes; mesmo nosso primeiro álbum teve overdubs.” E para deixar o registro mais interessante Eric Clapton, que gravava em um estúdio próximo foi “arrastado” pela banda para participar em duas faixas: Everybody Knows About My Good Thing (Miles Grayson/Lermon Horton) e I Can’t Quit You Baby (Willie Dixon) que, por sinal, também foi gravada pelo Led Zeppelin. Outro fato digno de registro é a harmônica tocada por Mick Jagger, com todo respeito ao mestre Little Walter.

Todas as faixas são executadas mantendo-se o background original, porém com a inevitável assinatura dos músicos que fazem verdadeiras reverências ao estilo e aos seus compositores. A emoção e o sentimento tão característicos nas execuções originais podem ser percebidos nas versões apresentadas.

Para materializar a afirmação acima, ouçam a faixa título “Blue and Lonesome” de Little Walter. O blues em tom menor foi executado com primazia e deixa transparecer todo o feeling da banda. 

Destaque para a guitarra de Richards que se pronuncia a cada oportunidade e para o inspirado solo de harmônica de Jagger. Little Walter ainda se faz presente na clássica “Hate to See You Go” que lembra o estilo do não menos importante John Lee Hooker.

Outro ponto alto do álbum é a balada blues “Everybody Knows About My Good Thing”. Como se não bastasse a slide guitar de Clapton, a interpretação de Jagger está acima das expectativas e digna de um autêntico bluesman.

Enfim, para quem imagina que para se gravar um disco de blues basta selecionar algumas músicas e executá-las com técnica, aqui vão as palavras de Keith Richards: “(O Blues) é uma música superficialmente simples, mas é muito mais complexa na realidade... De onde vem isso?” A resposta foi dada por seu velho companheiro Charlie Watts que afirmou “Isto não é técnico, é emocional. Uma das coisas mais difíceis é conseguir esse sentimento.” E eles conseguiram!

Em resumo, “Blues & Lonesome” é um resgate competente, autêntico e emocionado das origens de incontáveis estilos musicais contemporâneos. Do Pop Rock ao Heavy Metal (incluindo seus sub grupos), todos são oriundos do velho e resistente blues que sobrevive em paralelo aos seus “filhos”. Nesse sentido, Mick Jagger afirmou: “Todas essas canções têm antecedentes. Nós estamos prestando nosso respeito, mas estamos levando o Blues para frente e, cheios de esperança, o apresentando à uma nova geração de fãs”.

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