Respeito, gratidão,
competência e muito sentimento. Essas são as definições mínimas para o último
trabalho dos Rolling Stones. “Blue & Lonesome” não é um álbum comum. Os
amantes do blues, incluindo este que vos escreve, estão acostumados a
lançamentos de compilações do gênero, lançados por grandes artistas como Eric
Clapton e Keb’ Mo’ que gravaram homenagens competentes a Roberto Johnson por
exemplo.
Mas o álbum dos Stones
representa algo mais, a começar pelo fato de que o blues nunca foi o carro
chefe da banda. Entretanto, as suas raízes vão fundo no estilo e sempre
serviram de base para suas composições. Nas palavras de Keith Richards “Se você
não conhece o blues...Não há sentido em pegar uma guitarra e tocar rock’n roll
ou qualquer outra forma de música popular.”
E eles escolheram o blues
de Chicago e seus compositores da velha
escola para esse tributo. Aos menos avisados, nomes como Walter Jacobs, Samuel
Maghett e Chester Burnett, constantes dos créditos, podem soar estranhos.
Entretanto, o ouvinte mais envolvido reconhece de imediato os grandes Little
Walter, que assina quatro das doze faixas, Magic Sam e Howlin’ Wolf. Outro
ícone do blues de Chicago que assina duas faixas do álbum é Willie Dixon, que
vem acompanhado de outros compositores menos referenciados como Lermon Horton,
Jimmy Reed, Jerry West e Otis Hicks.
O álbum foi gravado em
inacreditáveis três dias (11, 14 e 15.12.2015), feito inédito para a banda que
foi retratado nas seguintes palavras de Mick Jagger: “Nós nunca fizemos um
álbum como este antes; mesmo nosso primeiro álbum teve overdubs.” E para deixar
o registro mais interessante Eric Clapton, que gravava em um estúdio próximo foi
“arrastado” pela banda para participar em duas faixas: Everybody Knows About My
Good Thing (Miles Grayson/Lermon Horton) e I Can’t Quit You Baby (Willie Dixon)
que, por sinal, também foi gravada pelo Led Zeppelin. Outro fato digno de
registro é a harmônica tocada por Mick Jagger, com todo respeito ao mestre
Little Walter.
Todas as faixas são
executadas mantendo-se o background original, porém com a inevitável assinatura
dos músicos que fazem verdadeiras reverências ao estilo e aos seus
compositores. A emoção e o sentimento tão característicos nas execuções
originais podem ser percebidos nas versões apresentadas.
Para materializar a
afirmação acima, ouçam a faixa título “Blue and Lonesome” de Little Walter. O blues
em tom menor foi executado com primazia e deixa transparecer todo o feeling da
banda.
Destaque para a guitarra de Richards que se pronuncia a cada oportunidade
e para o inspirado solo de harmônica de Jagger. Little Walter ainda se faz
presente na clássica “Hate to See You Go” que lembra o estilo do não menos
importante John Lee Hooker.
Outro ponto alto do álbum
é a balada blues “Everybody Knows About My Good Thing”. Como se não bastasse a slide
guitar de Clapton, a interpretação de Jagger está acima das expectativas e
digna de um autêntico bluesman.
Enfim, para quem imagina
que para se gravar um disco de blues basta selecionar algumas músicas e
executá-las com técnica, aqui vão as palavras de Keith Richards: “(O Blues) é uma
música superficialmente simples, mas é muito mais complexa na realidade... De
onde vem isso?” A resposta foi dada por seu velho companheiro Charlie Watts que
afirmou “Isto não é técnico, é emocional. Uma das coisas mais difíceis é
conseguir esse sentimento.” E eles conseguiram!
Em resumo, “Blues
& Lonesome” é um resgate competente, autêntico e emocionado das origens de
incontáveis estilos musicais contemporâneos. Do Pop Rock ao Heavy Metal
(incluindo seus sub grupos), todos são oriundos do velho e resistente blues que
sobrevive em paralelo aos seus “filhos”. Nesse sentido, Mick Jagger afirmou: “Todas
essas canções têm antecedentes. Nós estamos prestando nosso respeito, mas
estamos levando o Blues para frente e, cheios de esperança, o apresentando à
uma nova geração de fãs”.
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