quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Muse: A obra-prima da primeira década (Review: The Resistance)


O mundo do rock já conheceu diversos power trios marcantes. Tivemos The Police, Nirvana, The Jimi Hendrix Experience, Rush, Green Day e muitos outros. Dentre eles está o Muse, banda que vem crescendo exponencialmente desde a sua estreia em 1999, com o disco "Showbiz". Desde então a banda vem compondo álbuns de qualidade e escrevendo e compondo hits como "Plug In Baby", "Hysteria", "Madness" e "Knights Of Cydonia", que deram à banda o status enorme que tem hoje em dia.

Esse sucesso não veio por acaso. São três músicos que mais parecem trezentos, com todos os elementos sonoros e musicas que são trazidos a cada disco, além de, é claro, grande técnica e profissionalismo em seus instrumentos. O ápice dessa proposta está no quinto álbum de estúdio do trio: O poderoso e marcante "The Resistance". É um disco forte e que, acreditem, não possui sequer uma faixa fraca ou ruim em seus 54 minutos de duração. Além disso, ele traz elementos de Hard Rock, arranjos de bateria eletrônica, baixos distorcidos e até uma sinfonia completa, dividida em três partes distintas. A banda ainda lançou dois discos depois de "The Resistance", "The 2nd Law" e "Drones", que possuem bons momentos e propostas interessantes, mas nada que ultrapasse o que foi atingido aqui.

"The Resistance" é aquele tipo de disco que costumamos falar que será um clássico, e é verdade, ele tem tudo para sobreviver ao teste do tempo e, daqui a trinta anos, ser lembrado como umas das maiores (senão a maior) obras da primeira década do século XXI.

DESTAQUES:


Resultado de imagem para MUSE UPRISINGAbrindo o álbum com uma peça pesada e direta, a banda aqui convoca os ouvintes para uma grande revolução. É uma espécie de canção de protesto, um grito dos oprimidos de certa sociedade, que esbravejam e anunciam "They will not force us / The will stop degrading us /They will not control us / We will be victorious" (Eles não nós forçarão / Eles pararão de nos degradar / Eles não nos controlarão / Nós seremos vitoriosos). Alguns dizem que a música se assemelha ao tema de Doctor Who, devido ao seu ritmo marcado e ao tema de teclado que é apresentado no começo de ambas as canções. Foi o primeiro single a ser lançado e permanece até hoje um dos maiores sucessos da banda, sendo parte integrante do setlist desde que foi lançada.
A estrutura da música é interessante, com o baixo fazendo a base que possui um arranjo interessante e bem marcado. Esse é um ponto positivo a ser destacado no trabalho Muse: Não há hierarquia de instrumentos. Assim como no Rush, guitarra, baixo e bateria aparecem e trabalham igualmente nas músicas, dando a elas o impacto e a boa estrutura que têm. Voltando à música, o tema de teclado do começo é interessante, porém breve, e a bateria é bem ritmada e tem poucas variações. A guitarra faz breves aparições durante os versos, com bends agudos, e se faz mais presente no segundo  momento da música, iniciado aos 3 minutos e 9 segundos. Nesse momento não há vocal cantado, a guitarra faz um solo e ouvimos saudações de uma multidão que grita "Hey!" durante a passagem inteira.


Imagem relacionadaA segunda faixa foge um pouco da proposta da primeira. É mais melódica e possui mais seções. Começa com uma introdução digna de trilha sonora de filmes, leve e épica. Conforme vai crescendo, mais elementos são adicionados à música. Primeiro ouvimos um piano, depois uma bateria, até que os vocais começam e permanecem no mesmo arranjo do começo por certo tempo, antes do baixo entrar e a bateria mudar de ritmo. Essa é a ponte que levará ao apoteótico refrão, que diz "Love is our resistance / They keep us apart and they won't stop breaking us down / And hold me, our lips must be sealed" (O Amor é a nossa resistência / Eles mantém separados e eles não pararão de nos quebrar / E me segure, nossos lábios devem ser selados).

Uma bonita canção de amor, certo? Não exatamente. A letra da canção foi baseada no livro 1984, de George Orwell, mais especificamente no romance proibido de Julia e Winston. Aqui, o amor é a única forma de se livrar das regras e ditames do grande irmão, ditador totalitário do livro.

É talvez a melhor faixa do disco, com seu refrão que causa arrepios na espinha e pela grande interpretação vocal de Matthew Belllamy, que consegue transmitir o sofrimento dos versos, a esperança do refrão e a raiva dos últimos versos de maneira que o ouvinte possa experimentar a sensação vivida pelo personagem.


Resultado de imagem para muse undisclosed desiresAqui a banda mostra o seu lado mais alternativo, com uma música estilo Depeche Mode, com algumas pinceladas de R&B. É uma canção de amor, tratando dos segredos e da vida compartilhada por dois amantes. Mas, não se engane, não é uma música romântica feita no bom e velho estilo "Balada melosa do Whitesnake". É uma peça mais complexa. A atmosfera é, de forma geral, sombria e misteriosa, com elementos envolventes e, ao mesmo tempo misteriosos. Possui um arranjo interessante de teclados e sintetizadores e um slap bass muito bem trabalhado no refrão. Os vocais são apresentados de forma envolvente e, de certa forma, sedutora e hipnótica. Os arranjos eletrônicos colaboram ainda mais para esse clima hipnótico, pois se repetem incansavelmente, deixando o ouvinte num transe que se estende até o fim música.


4) UNNATURAL SELECTION

É realmente difícil definir os destaques desse disco. Como dito antes, não há faixas fracas, cada uma trabalha bem e se destaca em sua única individualidade. “United States Of Eurasia” é uma bela pausa melódica que explicita em vários aspectos a influência do Queen nas composições do grupo. “Guiding Light” é uma peça singular, que também lembra bastante os trabalhos mais recentes do Queen.

Mas nenhuma das duas foi capaz de preparar o ouvinte para o que viria em seguida. “Unnatural Selection” é pesada, direta e ebem trabalhada. Chega a ser mais densa do que “Uprising”, começando com um órgão de igreja com um vocal que também lembra bastante o estilo de Freddie Mercury. A introdução dá lugar a em um riff impactante, que já estabelece a atmosfera que se seguirá até o fim da música, guiada totalmente pela guitarra. O baixo e a bateria permanecem no plano de fundo, deixando que Belammy faça a linha central da faixa, que também foi inspirada em uma obra literária (“Cisne Negro”), e aborda o caos de se viver em uma sociedade em que “O vencedor leva tudo”, como afirmou Belammy em entrevista à uma emissora de televisão francesa.

Há uma pausa calma e suave no meio da música, que começa com um arranjo que lembra um blues e que depois dá lugar ao solo de guitarra. Já no0 final tem os uma outra variação rítmica atmosférica, que lembra muito algumas músicas da NWOBHM.
É rápida, é energética e é um sucesso. Merece com certeza um ligar nos destques.


5) MK ULTRA

Um dos momentos mais inspirados do disco, “MK Ultra” é uma peça injustamente subestimada da carreira do trio. Pode não ter o impacto de “Unnatural Selection” e “Resistance” e nem a inovação de “Undisclosed Desires”, mas não é menos digna de reconhecimento por causa disso.

Começa com um riff bem otimista que vai crescendo e se repete até os vocais começarem. O tema da letra pode ser percebido desde o título da música: MK Ultra é o nome do projeto secreto da CIA de lavagem cerebral e controle mental, com experimentos que, supostamente, envolviam tortura física e psicológica. Mas a letra não trata necessariamente dos episódios que envolveram a inteligência americana, mas também, podem ser compreendidos como uma crítica voltada para um contexto mais generalizado: A mídia global e como ela trabalha para manipular os cidadãos; fato que já foi afirmado por Belammy em outra entrevista.


Há várias referências ao tema na letra, como, por exemplo, em “How many lies will you create?” (Quantas mentiras vocês vão criar?) e “How much longer till you break? / Your mind is about to fall” (O quanto mais até você sucumbir? / Sua menta está prestes a cair).

6) EXOGENESIS: SYMPHONY (PARTS 1, 2 & 3)

Resultado de imagem para muse exogenesisAqui está: o apoteótico e grandioso fim do disco em uma sinfonia completa dividida em três partes (Overture/Croos-polination/Redemption). Em seus quase 13 minutos de duração, esse é um momento a parte dos outros contidos no álbum, pois possui seu próprio conceito e sua própria proposta além de, é claro, seu próprio universo. Conta a história da Humanidade, que está deixando a Terra, já destruída e arruinada, para trás e indo em busca de um novo planeta. Como mencionado anteriormente, é dividida em três partes, sendo elas:

PARTE I: OVERTURE

Os seres humanos ainda estão confusos e assustados. É o começo do fim, a civilização aceita o seu destino, mas ainda restam perguntas como “Quem somos nós?”, “Por que?”, e mais importante: “Por que estamos aqui?”.

Musicalmente, essa parte começa bem lenta, em uma abertura que lembra em algumas características a de “2001: Uma Odisseia no espaço”, com seu arranjo dramático e misterioso, que anuncia que algo está por vir. Aos poucos vão sendo adicionadas mais camadas e mais instrumentos, incluindo o vocal em falsete muito bem executado. Tudo culmina no final épico e grandioso, com a presença da guitarra e da orquestra executando uma passagem triste e desesperadora.
É uma peça de abertura, como o próprio nome sugere, e retrata o estado mental da civilização humana, ainda na Terra e pronta para sair, por isso é tão melancólica.

PARTE II: CROSS-POLINATION

Diferentemente de “Overture”, essa arte se mostra mais acessível e otimista instrumentalmente, talvez representando a esperança que a Humanidade tem nessa missão e nos astronautas que foram mandados para o espaço, a fim de realizá-la, e que narram essa parte da sinfonia.

Começa com um piano na linha de frente euma orquestra executando um arranjo futurista no fundo, que vai crescendo até que acontece uma quebra e voltamos a ouvir apenas o piano com a voz, que exala esperança nos astronautas (“We’re counting on you” e “You must rescue us all”), por isso a atmosfera dessa seção é positiva e feliz.

Quando nos é exposta a visão dos astronautas, o clima continua o mesmo e o arranjo não muda, permanecendo o mesmo até o vocal parar, quando subitamente a música desacelera e se mantém calma e vagarosa até que acabe.

PARTE III: REDEMPTION

O final definitivo da saga também e filosófico e reflexivo, pois nos leva a pensar sobre o valor real da tal missão, e se os seres humanos não irão também destruir o novo planeta ao qual se direcionam como já fizeram com a Terra.
É uma faixa calma e serena, diferente do caos e confusão da primeira e a emoção otimista da segunda. É um momento de descanso, um final suave e tranquilo para esse que é tido como o melhor momento do disco.

NOTA: 9,5

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